sexta-feira, 8 de julho de 2016

Cap. 6 - O Inventor da Diplomacia Itinerante


Cap. 6

O Inventor da Diplomacia Itinerante

Tudo começou em Tessalônica. O quarteto missionário tornara-se um trio, pois Lucas havia ficado em Filipos, a fim de consolidar aquela igreja. Paulo, Silas e Timóteo desceram a estrada principal e caminharam uns 160 km até Tessalônica, uma viagem de três dias. A estrada principal era a Via Inácia; sua conexão com a Itália era a Via Ápia.
Já que Tessalônica foi um lugar muito importante na diplomacia itinerante de Timóteo, é bom conhecer um pouco sobre essa cidade. Como Filipos, estava na província da Macedônia, mas era maior, mais impudente e com um movimento comercial mais intenso. Fazia parte do plano missionário de Paulo: parar somente em cidades estratégicas, de onde o evangelho se espalhasse para as áreas circunvizinhas. Vindo de Filipos ele passou por duas cidades de médio porte, mas parou em Tessalônica por ser ela a capital da Macedônia, ter uma sinagoga judaica, e ser um ponto central de onde o evangelho se expandiria.
A obra em Filipos tinha-se desenvolvido lentamente. Os missionários passaram lá uns três meses e, até os últimos dias, o progresso fora insignificante. Três meses pode não ser muito tempo para se organizar uma igreja, mas Paulo era um homem apressado. Já tinha 50 anos e, com as coisas que lhe estavam acontecendo, ele não sabia se chegaria aos 51 anos, muito menos aos 60.
Em Filipos, Timóteo viu que era possível fundar uma igreja onde não havia grande população judaica. Mas, viu também quão vantajoso teria sido para aqueles novos cristãos se tivessem conhecido as promessas de um Messias do Antigo Testamento.
Tessalônica, com uma população judaica maior, poderia ser uma história diferente. Não dúvida de que Paulo planejava uma longa estada na capital da província, com esperanças de que ela viesse a ser o centro de evangelização de toda a Macedônia. Com uma população de 200.000 habitantes, Tessalônica era a maior de todas as cidades que Paulo já tinha visitado em suas viagens missionárias, e talvez a maior de todas as cidades que Timóteo jamais vira.

Tessalônica

“Com caravanas amontoando-se nas hospedarias, com os portos cheios de embarcações vindas do exterior, com veteranos e experientes marinheiros, oficiais romanos e milhares de mercadores judeus acotovelando-se pelas ruas, Tessalônica apresentava um quadro bastante cosmopolita.”
Era este o tipo de cidade que Paulo gostava: uma cidade estratégica, uma cidade-trampolim. O evangelho seria facilmente expandido de uma cidade como esta. Além disso, Paulo havia recebido um chamado especial da Macedônia para evangelizar a área, e Tessalônica era logicamente o lugar ideal para a sede dessa evangelização.
Para começar logo o trabalho, Paulo fez duas coisas: procurou uma sinagoga, e montou uma oficina de fabricador de tendas. Como ele pretendia ficar em Tessalônica por algum tempo, ele, Silas e Timóteo precisavam ter os meios de sobrevivência.
As credenciais de Paulo como doutor da Lei eram excelentes, e, deste modo, foi-lhe permitido que ensinasse as escrituras do Antigo Testamento na sinagoga nas manhãs de sábado. Paulo provavelmente começou com Moisés e os profetas e explicou como Jesus foi o cumprimento de todas as Escrituras do Antigo Testamento. Como sempre, a ressurreição foi o ponto alto da mensagem de Paulo. Foi provavelmente uma mensagem-padrão que ele sempre pregava ao entrar numa sinagoga em qualquer nova cidade que visitasse. Para maiores detalhes, veja Atos 13:4-41 onde se encontra a sua mensagem na sinagoga de Antioquia da Pisídia.

Missionários com Sustento Próprio

Durante a semana, parece que o trio missionário trabalhava em conjunto como fabricantes de tendas, embora seja possível que Silas e Timóteo exercessem outro ofício e tivessem arranjado emprego separadamente.
Paulo escreveu aos tessalonicenses: “Porque vos recordais, irmãos, do nosso labor e fadiga; e de como, noite e dia labutando para não vivermos á custa de nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus”(I Tessalonicenses 2:9). Quando Paulo diz nós, ele inclui Timóteo. Evidentemente, suas vidas não eram “sombra e água fresca”.
Este é um aspecto do discipulado que Timóteo não tinha ainda experimentado. Não fora ele chamado por Deus para ministrar a sua Palavra com Paulo? Então, por que ele estava fazendo tendas? Isso fazia parte do seu trabalho? Fazer tendas não estava um tanto fora do âmbito espiritual?
Paulo explicou o fato aos tessalonicenses como deve ter explicado ao jovem Timóteo. Em primeiro lugar, Paulo teve de fazer tendas para prover o seu sustento. A alternativa seria pedir à novel igreja tessalonicense que sustentasse o trio. Embora não houvesse nada de errado nisso, naquela altura dos acontecimentos Paulo percebeu que isso não seria aconselhável.
Havia, porém, um terceiro motivo. Paulo explicou: “Querendo-vos muito, estávamos prontos a oferecer-vos, não somente o evangelho de Deus, mas,  igualmente a nossa própria vida” (I Tessalonicenses 2:8).
Não teria sido melhor se eles tivessem pregado o tempo todo? Talvez sim. Talvez não. O discípulo precisa aprender que o evangelho pode ser apresentado de muitas outras maneiras além da proclamação direta.
O rabino Jehuida disse: “Aquele que não ensina um ofício ao seu filho, está lhe ensinando a ser ladrão.” O próprio Gamaliel, mestre de Paulo, disse certa vez: “Aquele que sabe trabalhar com as mãos, com que se parece? Com um parreiral cercado.” Em outras palavras, para um doutor da Lei é um ótimo investimento saber fazer algo mais do que ensinar.
Aquilo que chamamos de trabalho secular serve não somente como fonte de recursos, mas também é bom em si mesmo. Fazer tendas era um jeito de Paulo e dos outros missionários servirem aos tessalonicenses; era semelhante ao que Jesus teve em mente quando lavou os pés dos discípulos. O trabalho era um modo de participar do suor e da vida diária do povo a quem ministravam espiritualmente.
Por mais difíceis que fossem, fazer tendas e ensinar na sinagoga eram uma associação proveitosa. Timóteo deve ter ficado emocionado ao ver a diversidade dos novos convertidos. Neles estavam incluídos “alguns  judeus...numerosa multidão de gregos piedosos e muitas distintas mulheres” (Atos 17:4).

Surgimento de Problemas

Mas o entusiasmo de Timóteo deve ter durado pouco. Ele podia perceber que alguns problemas estavam prestes a surgir. O primeiro indício desses problemas era que já não eram bem recebidos para ensinar na sinagoga. Parece que os três homens continuaram o seu ministério nas ruas e nos lares, principalmente na casa de Jasom, que os hospedava. Quando alguns dos gentios convertidos deixaram de ir às sinagogas para ir às reuniões dos cristãos, isso provocou mais problemas.
A tensão aumentava. Timóteo deve ter tido aquela sensação de que “tudo ia começar novamente”. Em Listra, Timóteo havia visto Paulo ser apedrejado. Em Filipos, o primeiro ponto real desta viagem missionária, Timóteo viu Paulo e Silas serem açoitados e lançados na prisão. E agora em Tessalônica a atmosfera estava carregada. O que iria acontecer desta vez?
Os líderes da sinagoga acharam que Paulo e companhia estavam não somente roubando as suas ovelhas como também privando-os de algumas ofertas. Quando algumas mulheres gentias abastadas começaram a ir ao culto cristão ao invés de a sinagoga judaica, o fato atingiu o bolso dos líderes. E isso lhes doeu.
Assim, ajudados por uma súcia de desordeiros que perambulavam pelo mercado da cidade, eles fomentaram um tumulto e assaltaram a casa de Jasom onde Paulo, Silas e Timóteo estavam hospedados. Infelizmente para a turba, os missionários não estavam em casa. Arrastaram o pobre Jasom para o tribunal e acusaram-no, bem como aos missionários ausentes, de subversão, sedição e desordem.
As acusações contra Paulo, Silas, Timóteo e Jasom eram realmente sérias. Conforme afirma F. F. Bruce: “Não se pode negar que, com muita freqüência a ida de Paulo a qualquer cidade era prenúncio de tumulto e que, especificamente, o Jesus que ele proclamava como o Senhor soberano tinha sido executado por sentença de um tribunal romano, sentença dada por haver ele dito ser o Rei dos judeus.”
Ninguém podia negar a acusação de que o Cristianismo estava transtornando o mundo.
Timóteo, entretanto, não era o tipo de pessoa a quem se pudesse fazer tal acusação. “Provocar tumulto?” ele perguntaria. “Meu estômago quase vira do avesso quando tenho de falar a um auditório de mais de 10 pessoas.”
Porém, quando Deus opera, ele pode usar até Timóteo para revolucionar o mundo.
Bem, os anciãos exigiram de Jasom a garantia de que os missionários sairiam da cidade e não mais provocariam problemas. Uma vez mais, a notícia do que ocorreu em Roma, na época do imperador Cláudio, deve ter assustado os governantes de Tessalônica. Em vez de investigarem mais cuidadosamente as acusações falsas, decidiram não se arriscar.

Fuga para Beréia

Por este motivo, naquela noite Paulo, Silas e Timóteo partiram para Beréia, que ficava a uma distância aproximada de 80 km. A estada em Tessalônica, incluindo as três semanas na sinagoga, deve ter sido de dois a três meses, embora alguns estudiosos da Bíblia a estendam para cinco meses,. Mas, para Paulo, o tempo não foi suficiente.
Deus lhe havia dado instruções claras para ir á Macedônia, e Tessalônica era a capital. Ele havia recebido ordens dos oficiais da cidade para se retirar dali, mas essas ordens não tinham vindo de Deus.
Além disso, a congregação que eles deixaram para trás era gentia na sua grande maioria, muitos dos quais haviam deixado seus deuses não fazia muito tempo (I Tessalonicenses 1:9). Em outras palavras, quando está havendo um reavivamento numa cidade grande, ninguém gosta de ser transferido para um lugarejo. As almas são preciosas em ambos os lugares, mas a cidade grande é muito mais estratégica.
Beréia era um lugarejo. Não há dúvida de que Paulo esperava que, dentro de poucas semanas, as coisas se aclamassem em Tessalônica e eles pudessem voltar para continuar o seu ministério.
Mas não se acalmaram. E com isso, fundou-se em Beréia uma igreja forte e amante da Palavra de Deus. O problema foi que a notícia do que estava acontecendo em Beréia chegou a Tessalônica, e então os agitadores tessalonicenses foram a Beréia e levaram a confusão.
Paulo não era do tipo que foge toda vez que se defronta com dificuldades, mas, mesmo assim, ele reconhecia que algumas vezes era do interesse da igreja local que ele se retirasse o mais rápido possível.

Fuga para Atenas

Paulo era como uma irritante e desagradável mosca que os agitadores tessalonicenses estavam decididos a matar. Por essa razão, o melhor que ele tinha a fazer era seguir para o sul.
É duvidoso que ele tenha contado a alguém para onde ia. Em verdade, é bem possível que nem o próprio Paulo soubesse do seu destino ao deixar Beréia. Seu primeiro pensamento foi provavelmente, ir para Tessália, a apenas 160 km para o sul. Mas os seus companheiros de Beréia convenceram-no a ir mais longe, o que o levou então mais ou menos 320 km para o sul, chegando a Atenas, capital intelectual e cultural da Grécia. Timóteo e Silas, porém, ficaram em Beréia, ajudando a igreja ali, observando a situação em Tessalônica a fim de verificar se o clima político e emocional mudaria, e esperando novas instruções de Paulo.
Se Timóteo havia chegado a pensar que era apenas um estagiário administrativo sob o olhar vigilante do seu mestre Paulo durante a viagem missionária, essa idéia rapidamente se desfez. Mais e mais Timóteo tinha de trabalhar por sua própria conta. Fazia quase um ano que havia aderido à equipe de Paulo. Portanto, devia estar com 20 ou 21 anos. Mas já lhe era confiada grande responsabilidade.
É provável que Timóteo e Silas tenham levado duas semanas para receberem o recado de Paulo dizendo que desejava ter os dois com ele em Atenas, tão depressa quanto possível. É claro que Paulo também queria que trouxessem notícias da situação em Tessalônica. Já era seguro voltar? Os ânimos já haviam arrefecido?
As notícias que Timóteo e Silas levaram a Paulo eram de que a situação em Tessalônica ficava cada vez pior. Se Paulo voltasse, ele apenas agravaria a situação.
É bem possível que tenham pensado em terminar a segunda viagem missionária neste ponto, com Timóteo talvez voltando a Listra e Paulo e Silas voltando a Antioquia da Síria. Mas ainda havia muito por fazer. Os três tinham passado um ano em viagem e haviam fundado três igrejas; cada uma delas, porém, tinha sido deixada às pressas. Como poderia Paulo apresentar um relatório preciso à igreja de Antioquia? Na sua primeira viagem, ele tinha voltado a visitar cada igreja, animando-se com o progresso das igrejas de Listra, Icônio e Antioquia.  Mas nesta segunda viagem, Tessalônica tinha sido sua principal parada, e ele estava impossibilitado de voltar a visitá-la.
Paulo cantara na prisão de Filipos; sob o sol de Atenas, porém, ele parecia desanimado. O que, em realidade, tinha sido feito no último ano? Haviam obedecido ao chamado da Macedônia, mas tudo o que conseguiram com os seus esforços foram complicações.
Só havia uma coisa a fazer. Como Paulo não podia voltar a palmilhar aqueles mesmos lugares (alguns diziam que talvez por causa de uma recaída de alguma doença; mais provavelmente, contudo, por causa da situação política), convinha-lhe mandar Timóteo e Silas avaliarem diretamente a situação.

Timóteo para Tessalônica

Deste modo, Timóteo foi mandado de volta a turbulenta cidade de  Tessalônica enquanto Silas foi enviado a Filipos ou, possivelmente a Beréia. Por que foi Timóteo mandado para o lugar de maior tensão?
Talvez porque os agitadores não veriam em Timóteo uma grande ameaça, como poderia acontecer com Silas que era profeta e professor. Talvez, ao pregar na sinagoga, Silas se tivesse salientado mais do que Timóteo, que era apenas meio-judeu. O que se sabe é que o trabalho foi entregue a Timóteo.
É óbvio que foi tão só o grande interesse de Paulo pelos tessalonicenses que o fez enviar seu “filho na fé” para o “fogo cruzado” de Tessalônica. Paulo escreveu-lhes: “por isto quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não somente uma vez, mas duas), contudo Satanás nos barrou o caminho... Pelo que, não podendo suportar mais o cuidado por vós, pareceu-nos bem ficar sozinhos em Atenas; e enviamos nosso irmão Timóteo, ministro de Deus no evangelho de Cristo, para, em benefício da vossa fé, confirmar-vos e exortar-vos” (I Tessalonicenses 2:18; 3:1-2).
A jornada de 320 km de volta a Tessalônica deve ter levado sete dias, tempo que Timóteo deve ter passado pensando e orando. Não estaria ele indo para uma cova de leões como Daniel? Mas Timóteo não tinha o temperamento de Daniel. Nem a audácia de Pedro, nem a valentia de Davi.
Talvez ele tenha tremido de medo durante todo o longo percurso, mas continuou a andar, a pensar e, sem duvida, a orar todo o tempo.
Seu trabalho em Tessalônica não era simplesmente o de repórter, colhendo notícias aqui e ali, esgueirando-se furtivamente pela cidade sem ser visto. Seu trabalho era fortalecer a igreja que era como uma árvore transplantada e que precisava ser amarrada e firme a uma estaca de tal modos que fortes ventos não a retorcessem. Era uma obra a ser escorada com firmeza.
Pensará alguém que Timóteo é que precisava ser escorado, e muito firmemente com grossos cabos para que não ficasse ao léu dos ventos. Mas nem sempre Deus chama os fortes para sustentarem os fracos; às vezes é a nós que ele chama e, no decurso dos acontecimentos, tornamo-nos mais fortes.
O que diria Timóteo ao povo? Fazia apenas alguns anos, a igreja em Listra estivera em situação semelhante. O povo da cidade havia apedrejado a Paulo, expulsando-o dali; mas algumas semanas depois ele voltou “fortalecendo as almas dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé”; pois que “através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (Atos 14:22). Esta foi uma mensagem que Timóteo jamais esqueceu. E seria uma mensagem especialmente apropriada para Tessalônica.
Barclay compara Timóteo a um selo postal. Diz ele: “Uma das coisas mais extraordinárias acerca de Timóteo é o fato de muito repetidamente lermos sobre Paulo mandando-o para algum lugar. Na realidade, Timóteo deve ter passado a maior parte da vida em missões enviadas por Paulo.”
E, então, Barclay destaca a razão pela qual Timóteo era tão bom mensageiro: ele se parecia com um selo  postal. “O selo postal gruda-se ao seu trabalho. Ele é grudado no envelope e aí fica até chegar ao seu destino. A pessoa que deixa as dificuldades abaterem-na nunca chega a lugar algum. Um bom mensageiro nunca desiste antes de ter entregue a sua mensagem.
Em segundo lugar, o selo postal vai para onde for mandado grudado no envelope ele irá para Londres, Paris, Berlim, São Paulo, Brasília, ou seja para onde for.
O problema da maioria das pessoas é que trabalham empregando o máximo das suas forças e o melhor possível nas coisas que gostam de fazer, mas não aplicam o melhor dos seus esforços nas coisas das quais não gostam... Não importava a Timóteo para onde o mandassem. Ele ia. Para ele era suficiente que Paulo assim o quisesse... Uma das maiores provas pela qual uma pessoa pode passar é ver se pode realmente, esforçar-se por fazer aquilo que não gosta.”
Quanto tempo Timóteo ficou em Tessalônica cumprindo a missão de verificar os fatos é coisa que não se sabe. A maioria dos estudiosos do assunto acha que não passou de algumas semanas. Durante todo o tempo, além de ensinar, ele avaliava a situação para Paulo.
O que ele averiguou foi, na maioria das vezes, algo de positivo. Entretanto, houve problemas, perseguições e pressões. A novel igreja era perseguida tanto por judeus como por gentios. Para maior complicação, os líderes judeus exerciam uma pressão mais sutil: “Se vocês voltarem a unir-se conosco, estarão livres da perseguição.” Mas, apesar dos problemas, os crentes não deixavam que a situação os abatesse. O seu exemplo cristão era conhecido desde Filipos até Atenas. As suas vidas eram um forte contraste com as dos seus contemporâneos. Não era fácil ter uma vida virtuosa em Tessalônica.
No seu comentário, William Neil afirma: “A realidade é que um dos obstáculos mais difíceis de serem superados pelos pagãos convertidos era a atitude cristã relativa ao sexo. O pagão crescera num ambiente onde a poligamia, o concubinato, a homossexualidade e a promiscuidade eram aceitos como coisa muito natural... Muitos dos cultos religiosos eram francamente sexuais, com ritos fálicos e fornicação sacramental fazendo parte da adoração.”
O fato de os convertidos de Tessalônica terem uma vida correta era prova de que o Espírito Santo podia conservar os novos convertidos num caminho reto e estreito, sem a muleta do legalismo.
Não quero dizer que os novos cristãos tessalonicenses estavam vacinados contra o pecado. Nem tampouco insinuo que eles não tinham problemas. O seu problema básico era, porém, o fato de ainda serem bebês espirituais.
Para Timóteo, é possível que a fé dos tessalonicenses parecesse superficial. Eles viviam num plano emocional. Ainda não dispunham de tempo suficiente para que a sua fé criasse raízes profundas. Faltavam-lhes professores que os instruíssem.
Seus lideres não haviam ainda conquistado a sua confiança. O povo fazia perguntas que os líderes não sabiam responder. E parece, também, que não confiavam muito nas respostas de Timóteo, que contava apenas 20 anos de idade. A maioria das suas perguntas não esclarecidas referia-se à segunda vinda de Cristo. Parece que eles haviam aprendido apenas que Jesus Cristo voltaria, e não sabiam como essa verdade se aplicava ao viver diário aqui na terra no momento presente. Também não sabiam o que aconteceria àqueles que morressem antes da vinda de Cristo. Será que os mortos perderão as bençãos da Segunda Vinda? indagavam eles.

De volta a Atenas

Quando Timóteo se dirigiu de novo para o sul a fim de levar as notícias a Paulo, Le tinha muito que contar. Timóteo foi aonde Paulo morava em Atenas e descobriu que ele se mudara. Disseram-lhe que estava em Corinto.
Hoje, quando pensamos na Grécia, Atenas é a primeira cidade que nos vem á mente. Mas nos dias de Paulo, era a segunda cidade grega. Os seus áureos dias de glória tinham ocorrido 300 anos antes. Atenas ainda era conhecida como uma cidade que se sobressaía pela educação, pela filosofia e pela cultura, mas Corinto lhe era superior em todos os outros pontos. Os atenienses eram superiores no pensar e no falar, mas não muito dados a realizações. Os coríntios tinham facilidade para falar e para grandes realizações, mas não se distinguiam nas reflexões.
O que Tessalônica era para a província da Macedônia, e Éfeso para a província da Ásia, assim Corinto era para Acaia, a província que abrangia a parte meridional da Grécia.
Ao encontrar-se com Paulo na seção das tendas no mercado de Corinto, Timóteo deve ter se surpreendido com o estado mental do amigo. Na biografia de Paulo, F. F. Bruce diz: “Paulo estava muito desanimado em sua viagem de Atenas para Corinto. Quando atravessou o mar em direção à Macedônia, provavelmente não fazia parte do seu programa ir mais ao sul até à província da Acaia. Ele fora compelido a ir de uma cidade macedônia para outra, e parecia que, agora, não havia lugar para ele naquela província, apesar da sua convicção anterior de que Deus o chamara para evangelizá-la. Era verdade que a sua pregação na Macedônia não tinha sido em vão; deixara pequenos grupos de convertidos em Filipos, Tessalônica e Beréia. Mas ele estava muito apreensivo sobre o bem estar deles... Atenas tinha sido bem menos encorajadora do que as cidades da macedônia. Deste modo, Paulo chegou a Corinto, com ele diz: “em fraqueza, temor e grande tremor” (I Coríntios 2:3).
Decerto, foi por essa época que Paulo se encontrou com Priscila e Áquila, dois imigrantes cristãos de Roma, que devem ter contribuído para a melhora do seu estado de espírito. Mas o grande fardo no coração de Paulo era ainda a situação difícil dos cristãos do norte.
Que estímulo devem ter sido quando Timóteo e Silas voltaram de Tessalônica e Filipos com boas notícias! Silas também trouxe uma oferta da igreja filipense (2 Coríntios 11:9), que possibilitou Paulo a devotar-se inteiramente à pregação e ao ensino.

A primeira epístola aos tessalonicenses

Primeiro ele tinha de escrever uma carta aos tessalonicenses.  O relatório de Silas sobre Filipos não indicava que os cristãos filipenses precisassem de uma carta, mas os cristãos tessalonicenses, perseguidos e perplexos com diversas questões embaraçosas, precisavam com urgência de uma carta.
Foi então que Paulo começou a escrever a sua Primeira epístola aos Tessalonicenses. Como Silas e Timóteo tivessem sido seus colaboradores e estivessem agora ao seu lado em Corinto, ele os incluiu na saudação. Não quer isso dizer que Timóteo tivesse escrito a terça parte da carta, mas indica a alta estima que Paulo tinha por esse rapaz de 20 anos que era o seu filho na fé.
Nessa mesma epístola, um pouco mais adiante (I Tessalonicenses 3:2), Paulo refere-se a este jovem como “nosso irmão Timóteo, ministro de Deus no evangelho de Cristo”.
É bom lembrar que o estágio de Timóteo na equipe missionária de Paulo durou pouco mais de um ano; é bom lembrar também que Timóteo não era um jovem que se sobressaísse facilmente. Mesmo assim, Paulo o reconhecia como sendo seu igual.
É difícil fazer a transição de filho para irmão. Em algumas igrejas a mocidade raramente tem oportunidade de dar uma cooperação significativa. Paulo, porém, não resguardou ciosamente a sua posição. Se ele pudesse passar os seus encargos para a geração mais nova, tanto melhor.
Na primeira parte da carta aos tessalonicenses, Paulo lembra à igreja de Tessalônica o que aconteceu nos últimos seis meses. É uma carta emotiva, escrita por um homem cujo estado depressivo se transformara em uma satisfação profunda. Conta-lhes como Timóteo, seu cooperador, “ministro de Deus”, lhe trouxera o gratificante relato do seu progresso espiritual. Refere-se a esse relato como as boas notícias.  Paulo conta-lhes como o relatório de Timóteo o alegrou. “Agora vivemos...Pois que ações de graças podemos tributar a Deus no tocante a vós outros por toda a alegria com que nos regozijamos por vossa causa” (I Tessalonicenses 3:8-9).Paulo tinha interesse pelo bem estar de seus filhos espirituais.

A Segunda Vinda

Na última parte desta curta epístola, Paulo lembra à igreja a necessidade de pureza sexual, a importância dos líderes da igreja, e fala sobre a Segunda Vinda.
A Segunda Vinda não significa que abandonemos nossos empregos, subamos ao Monte Olimpo e lá esperemos que Cristo volte. Não significa que divulguemos as profecias e nada mais façamos enquanto os famintos morrem em Bangladesh e o mundo Ocidental ameaça despedaçar-se com a bomba atômica. Nem significa que aqueles que já morreram vão deixar de receber a benção. Serão os primeiros a ressurgir, e nós os encontraremos nas nuvens quando o Senhor voltar.
Paulo disse: “Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não tem esperança... Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (I Tessalonicenses 4:13-18).
A Segunda Vinda também significa que devemos estar sempre preparados para não sermos apanhados de surpresa, porque quando Jesus vier, ele virá repentinamente.
Paulo sabia que ainda havia muito para ser ensinado sobre a Segunda Vinda, mas ele esperava ter dito o suficiente para satisfazer às indagações da jovem igreja cristã tessalonicense.
Foi Timóteo quem levou esta carta aos tessalonicenses? Não sabemos. Parece-nos, todavia, que se fosse Timóteo o encarregado de levá-la, Paulo teria citado o fato na Primeira ou na Segunda Epístola aos Tessalonicenses. Com certeza, desta vez Paulo usou um mensageiro especial e conservou Timóteo e Silas consigo em Corinto.

Encorajando amigos

Alguém podia pensar que Paulo era um homem que não precisava de amigos; mas é óbvio, a julgar por suas epístolas, que seu ministério era mais eficiente quando ele contava com cooperadores. Quando Paulo estava sozinho, ficava por vezes um tanto desanimado. Havia algo de encorajador em Timóteo; quando ele se encontrava por perto. Paulo tornava-se um missionário melhor.
No capítulo 17 de Êxodo, encontra-se a história de uma batalha entre os filhos de Israel e os amalequitas. Foi uma batalha estranha. Josué era o general, lutando na linha de frente. Moisés achava-se no cimo do outeiro com a vara de Deus na mão. Mas dois outros homens, Arão e Hur, participavam igualmente da batalha. Quando Moisés levantava as mãos, Josué avançava; quando Moisés se cansava e abaixava as mãos, Josué retrocedia. Nesse ponto, Arão e Hur entraram em cena. Eles sustentaram as mãos de Moisés e Josué ganhou a batalha.
Timóteo e Silas eram como Arão e Hur eles mantiveram os braços de Paulo levantados. Todos conhecem a história do apóstolo Paulo, assim como todos conhecem a história de Moisés. Mas nos bastidores estavam Timóteo e Silas, Arão e Hur, encorajando, apoiando, simplificando, solucionado situações difíceis, e empenhando-se numa diplomacia itinerante como resultado, batalhas espirituais foram vencidas.
Mais tarde Timóteo voltaria à Tessalônica; desta vez como precursor de Paulo. Por ora, ele permaneceu com Paulo.
Aos 20 anos de idade, Timóteo tinha provado ser fiel e bem sucedido nas suas viagens itinerantes. Por certo isto o deveria ter animado muito.

Realmente, ele precisava desse estímulo, pois a mais difícil prova cristã da sua vida estava por vir.

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