Cap.
5
Como
conquistar a Macedônia
Talvez o que nos venha logo à mente
quando vemos uma referência à Macedônia é que seja um antigo país sobre o qual
ninguém mais pensa. Mas é claro que não era assim que o jovem Timóteo via
aquele lugar. Foi da Macedônia que veio Alexandre, o Grande. Grego pelo lado
paterno, Timóteo deve ter ouvido da boca do pai a história das conquistas de
Alexandre, do mesmo modo que da boca de sua mãe ouviu a história dos heróis
judeus.
Ir à Macedônia era o mesmo que visitar
monumentos nacionais. Era trazer á memória os mais grandiosos dias da conquista
grega. Assim, pode-se assegurar que qualquer jovem com sangue grego nas veias
teria esperado com ansiedade o momento de pisar no solo macedônio.
É claro que, naquela altura, Timóteo estava
feliz em ir a qualquer lugar. Os dois meses anteriores tinham sido, no mínimo,
de intensa frustração. A qualquer lugar que Paulo queria ir, o Senhor dizia: “Não.”
Agora era diferente. O Senhor havia dito: “Sim”, e eles seguiam caminho.
A própria viagem de barco deve ter
sido uma experiência excepcional para Timóteo. Listra, sua cidade natal, estava
a 160 km do Mediterrâneo e a 320 km do Mar Egeu.
A cidade da Macedônia para a qual eles
se dirigiam era Filipos. Fundada por Filipe da Macedônia (pai de Alexandre, o
Grande), Filipos foi o centro da mineração do ouro que sustentou a conquista do
mundo por Alexandre quatrocentos anos antes de Timóteo nascer. Menos do que 100
anos antes da chegada do evangelho, Filipos foi o local de uma histórica
batalha na qual Otaviano (conhecido mais tarde como César Augusto) e Antonio
derrotaram Brutus e Cassius. Depois dessa batalha Augusto voltou a Roma para
assumir a direção do Império e Brutus suicidou-se.
Filipos era também um centro médico da
Macedônia, o que pode até explicar a razão de Lucas ter-se unido á equipe
missionária naquele ponto. De qualquer
maneira, todos pareciam ansiosos para lá chegar. Parece que Deus também estava
ansioso para que eles chegassem lá. A viagem de barco, que às vezes levava
cinco dias quando o vento não era favorável levou apenas dois. Depois de uma
espera de diversas semanas, a equipe missionária apressava-se para o campo de
batalha.
Animados pela antecipação de finalmente
poderem agir, possuídos de uma firme convicção de que este era o lugar que Deus
lhes designara, e excitados pelo romantismo que impregnara toda a região da
Macedônia, o quarteto – Paulo, Silas, Timóteo e Lucas – desembarcou no porto de
Neápolis e começou a jornada de 16 km até a colônia romana de Filipos.
Chegada
a Filipos
O que encontraram ao chegar a Filipos?
Não muita coisa. Que decepção!
Tendo sido dirigidos por Deus de um
modo tão claro, não seria de esperar uma dramática recepção? Não deviam os
habitantes do lugar estarem alinhados na praia, agitando ramos de palmeira? Pelo
menos, não seria de esperar uma enorme sinagoga onde pudessem ministrar?
Bem, não foi isso o que aconteceu e,
depois de algum tempo, Paulo tinha boas razões para duvidar se o chamado da
Macedônia havia realmente vindo do Senhor.
Côo Listra, Filipos não possuía
sinagoga, o que indicava haver apenas uns poucos judeus na cidade. Isso queria
dizer que Paulo estava sem o seu meio de comunicação mais eficiente.
Mais uma vez, Paulo teve de procurar o
lugar onde os adoradores do deus verdadeiro se reuniam para orar no sábado. Isso
não era difícil de encontrar. Os judeus dispersos geralmente se reuniam às
margens de um rio, de conformidade com o Salmo 137. A beira de um rio era
também um local muito conveniente, no caso de alguns gentios quererem se
batizar.
O rio de Filipos, o Gangites, passava
a quase 2 km do oeste da cidade. Foi aí que os quatro homens acharam os
adoradores do Deus verdadeiro. Mas notaram que não havia sequer um homem no grupo.
Só mulheres.
Uma
igreja de mulheres?
Fundaria Deus uma igreja aqui? Talvez a
equipe missionária devesse dirigir-se à cidade próxima. Como estabelecer uma
cabeça-de-ponte no continente europeu com apenas um punhado de mulheres?
Era um modo assaz estranho de
conquistar a Europa. Quando Josué atravessou o Jordão e entrou na Terra
Prometida, ele se defrontou com a cidade de Jericó cercada de fortes muralhas. E,
quando Jericó caiu, o resto de Canaã tremeu nas suas bases. Mas, quando Paulo,
Silas, Timóteo e Lucas atravessaram o Mar Egeu e começaram a conquista do mundo
Ocidental, eles se defrontaram com uma reunião de oração de mulheres.
Nos dias atuais em que as mulheres
participam mais ativamente da sociedade, talvez não percebamos o humor da
situação dos missionários. Mas para um doutor da lei judaica que antes de se tornar
cristão costumava orar, dizendo: “Senhor, dou-te graças porque não me fizeste
gentio, nem escravo, nem mulher”, certamente essa circunstância tinha um toque
irônico.
Pode-se assegurar que isso também
trouxe lembranças à mente de Timóteo. Ele havia crescido sob a tutela da mãe e
da avó. Filipos faria com que ele sempre se lembrasse de que uma igreja, ou um
rapaz, sustentados por mulheres que oram há de prosperar.
Especialmente na Macedônia, o Judaísmo
atraía mulheres gentias. Como em outras cidades, muitas dessas mulheres se
horrorizavam com a imoralidade social desenfreada. Frequentemente as mulheres
eram vítimas de crimes e injustiça. Além do mais, era mais fácil para as
mulheres gentias tornarem-se prosélitas da fé judaica do que os homens. Só tinham
de ser batizadas, ao passo que os homens precisavam ser circuncidados. Além disso,
a Macedônia garantia às mulheres mais liberdade e mais direitos civis do que a
maioria das outras regiões. Aqui elas participavam de negócios e tinham o
direito de escolher a sua religião. (Consequentemente, as igrejas de
Tessalônica e de Filipos, as mulheres participaram do trabalho desde o começo.)
Ao término da reunião às margens do
rio, Paulo contava pelo menos com uma pessoa convertida: Lídia, uma mulher
extraordinária. Alguns anos antes, Jesus assentara-se junto à fonte em Samaria,
e uma mulher tinha se tornado sua discípula. Em Filipos, Paulo sentou-se à
beira de um rio e Lídia tornou-se crente. Mas a comparação pára aí. Lídia era
uma mulher de negócios de Tiatira, província da Ásia (justamente onde o Espírito
de Deus proibira Paulo de pregar o evangelho). Ela vendia o dispendioso tecido
de púrpura e prosperava financeiramente; em Filipos morava em casa
suficientemente grande para hospedar os quatro missionários, além de abrigar
seus próprios familiares (incluindo empregados e crianças).
A princípio, os homens relutaram em
aceitar a hospitalidade de Lídia. Mas Atos 16:15 relata: “...nos rogou dizendo:
se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa, e aí ficai. E nos
constrangeu a isso.”
Tinham agora um teto sobre as suas
cabeças e haviam ganho uma alma, mas por enquanto não se podia dizer que a “campanha
da Macedônia” estava sendo um sucesso. As reuniões de oração tornaram-se estudo
bíblico, e ao invés de se reunirem apenas aos sábados, passaram a reunir-se
diariamente. Mas não se podia dizer que estivesse havendo um despertamento
religioso. A congregação continuava com o mesmo número de membros.
Não havia grandes problemas. Não havia
grandes resultados. Uma atividade normal.
Foi então que surgiu um pequeno
problema. Uma jovem escrava começou a seguir os quatro homens quando estes
passavam pela rua principal de Filipos para o estudo bíblico todas as manhãs. Ela
os seguia clamando: “Estes homens são servos do deus Altíssimo, e vos anunciam
o caminho da salvação.”
Todas as manhãs, a escrava proclamava
as mesmas palavras. No começo, os missionários devem ter pensado que a garota
era louca, mas logo depois Paulo percebeu que estava possuída pelo demônio.
O que deviam fazer? Antes de
responder, consideraremos estes dois fatores:
1.
Quando
o grupo se dirigiu á beira do rio, dia após dia, passava por um famoso arco
filipense no qual havia uma inscrição proibindo deuses estrangeiros de entrarem
na cidade. Normalmente, Filipos era uma cidade amante da liberdade que não
prestava muita atenção á proibição de religiões estrangeiras. Mas algo havia
acontecido em Roma recentemente.
2.
No
ano 49 da era cristã, o imperador Claudio expulsara todos os judeus de Roma por
causa de um tumulto na comunidade judaica. Certos judeus haviam proclamado que
o Messias havia chegado. O alvoroço sobre o assunto tornou-s e tão intenso que
o imperador expulsou todos os judeus da cidade. A colônia romana de Filipos
estava alerta à possibilidade de alguns membros da pequena comunidade judaica
ficassem fora de controle.
Na manhã seguinte, a escrava novamente
os seguiu. Fosse qual fosse o motivo, ela precisava de ajuda. Tinha chamado os
missionários de servos de Deus, mas ela própria era uma serva dos homens que lucravam
com o seu poder demoníaco. Ela dizia que os missionários anunciavam ao povo o
caminho da liberdade, mas ninguém precisava de mais libertação do que ela
própria.
Ação
libertadora
Foi então que Paulo agiu. Irado, ele
se voltou e repreendeu o espírito maligno: “Em nome de Jesus Cristo eu te
mando: Retira-te dela!” (Atos 16:18). Ela foi então libertada do espírito
opressivo.
Ela estava livre, mas Paulo e Silas
não mais estavam em liberdade. Foram lançados na prisão por interferirem nos
negócios, por perturbarem a paz, e por trazerem religião para as ruas de
Filipos. (Timóteo e Lucas não foram presos, talvez por não serem judeus de puro
sangue.)
Embora Paulo e Silas estivessem no
cárcere interior e com os pés presos ao tronco, não deixaram que o seu espírito
fosse acorrentado. Na prisão, os seus cânticos proporcionaram entretenimento
para os outros prisioneiros. Na relaidade, os seus louvores acarretaram um
terremoto, e levaram o carcereiro a perguntar como podia se salvar.
É interessante este assunto de
liberdade. O homem, cuja profissão era acorrentar pessoas, descobriu que era
ele quem precisava de liberdade. Prestes a suicidar-se, o carcereiro foi
impedido por Paulo e Silas. Então ele perguntou aos dois prisioneiros como
conseguir liberdade.
Coisas estranhas aconteceram em
Filipos naquela noite.
Filipos era uma cidade que se
orgulhava da cidadania romana, a qual garantia liberdade ao povo. Mas eram os
cidadãos de Filipos realmente livres? Anos mais tarde, Paulo escreveu aos
filipenses falando-lhes sobre a cidadania celestial, a única que garantia
liberdade absoluta (Filipenses 3:20).
E o carcereiro, era livre antes? Claro
que não. Ele tinha poder para restringir a liberdade de outros, mas não podia
libertar-se a si próprio.
E Paulo e Silas nos troncos? Estavam
perfeitamente livres. Aliás, eles eram os homens mais livres da cidade. É por
isso que podiam cantar!
Timóteo deve ter ficado surpreso com a
rapidez dos acontecimentos. Durante diversas semanas a vida parecera um tanto
monótona em Filipos. De repente, em 24 horas, tudo se transformou. Ele deve
ter-se lembrado de uma ocasião semelhante alguns anos antes em Listra.
Nessa ocasião Timóteo se encontrava na
casa de Lídia juntamente com o Dr. Lucas, sem duvida orando pela libertação de Paulo
e Silas. Provavelmente havia mais crentes também ali orando naquela noite. Pelo
menos, estavam lá na manhã seguinte, quando bateram à porta. Paulo e Silas
entraram na casa e confortaram e encorajaram os irmãos.
Se a mera presença de Paulo e Silas
não lhes desse suficiente estímulo, eles seriam por certo encorajados pela
fantástica história que os dois homens contaram. Que estavam cantando na
prisão, e todos os prisioneiros os ouviam quando um terremoto partiu todas as
cadeias o carcereiro ficou tão perturbado que quis suicidar-se. Paulo e Silas o
acalmaram e lhe falaram acerca de Jesus Cristo. O carcereiro foi salvo e levou
os missionários para a sua casa, e os seus familiares também creram. Dentro de
poucas horas, os anciãos da cidade ficaram sabendo que Paulo e Silas eram
cidadãos romanos e vieram pessoalmente rogar aos missionários que saíssem da
prisão e deixassem a cidade. E foi assim que Paulo e Silas se dirigiram à casa
de Lídia.
Treinamento
de Timóteo
Para o jovem Timóteo, Filipos foi o
emocionante início de seu ministério. Paulo ainda não tinha escrito Romanos 8:28,
que se refere ao fato de Deus fazer que todas as coisas cooperem para o bem
daqueles que o amam, mas Timóteo já tinha aprendido esta verdade.
Quão desanimados não deveriam estar
aqueles jovens convertidos cristãos filipenses na noite anterior quando se
ajoelharam em oração. Mas eles aprenderam que Deus se compraz em fazer boas
surpresas. Filipos tornou-se uma igreja exultante, e a carta que Paulo lhes
escreveu mais tarde é cheia de regozijo.
Uma das surpresas de Filipos foi o
grupo pequeno e não muito promissor que Deus reuniu para formar esta novel igreja.
John Drane assim a descreve: “Os membros vinham de todas as camadas sociais,
incluindo-se uma proeminente mulher comerciante local, uma adivinhadora, e o
carcereiro da cidade com a sua família. Não é de admirar que, em uma das
cidades visitadas, Paulo, Silas e Timóteo fossem descritos como homens que
viravam o mundo de cabeça para baixo!”
Muitas vezes ao lermos Atos 16,
focalizamos o versículo 31: “Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus Cristo e
serás salvo, tu e tua casa.” Olhamos para Paulo, Silas e o carcereiro e temos a
tendência de pensar que aqueles três foram os únicos atingidos.
Mas é bom não esquecer o profundo
efeito que tal experiência deve ter produzido no jovem Timóteo. Era aquele o
primeiro grupo de crentes que ele havia ajudado a formar. Embora a constante
doutrinação da Palavra, dia após dia á margem do rio, devesse ter contribuído
grandemente para a estabilidade da jovem igreja, o ímpeto do crescimento posterior
derivou-se daquelas dramáticas 24 horas planejadas e executadas pelo Deus
Todo-Poderoso, não por Paulo. O home põe, Deus dispõe. Em Filipos, Timóteo
aprendeu que a chave do crescimento da igreja é o próprio Deus.
A perseguição viria, como Paulo havia
predito em sua visita a Listra alguns anos antes desta vez atingira Paulo e
Silas; da próxima, Timóteo podia ser atingido em cheio. Mas a lição que Timóteo
aprendeu, ao observar a perseguição de Paulo em Filipos, foi que os cristãos
precisam aprender a não se deixar atingir pelo infortúnio ou tribulação pelo
contrário, os cristãos precisam transformar estes momentos de aflição em
oportunidades.
Timóteo deve ter-se perguntado, como
eu me perguntaria: Se eu fosse lançado
numa prisão injustamente, seria eu capaz de cantar no meio da noite? Ou será
que eu ficaria de mau humor e me queixaria a deus por ter ele me tratado tão
injustamente? Será que eu pensaria estar sendo castigado por erros passados? Será
que eu ficaria só pensando em mim, ou será que eu olharia para Deus dizendo: “Senhor,
não sei por que tu me puseste neste lugar, mas vejo aqui nesta sombria umidade
alguns prisioneiros ao meu redor; enquanto espero que faças alguma coisa, acho
que poderia dar o testemunho cantando”?
Deus
opera
Deus opera, Timóteo; não se esqueça
disso. Opera por seu intermédio, mesmo que você não se dê conta do fato. Ele estava
operando naqueles primeiros dias em Filipos quando tudo parecia tão monótono e
tudo o que vocês faziam era levantar cedo, arrastar-se até à margem do rio fora
da cidade, e falar de Jesus Cristo a umas poucas mulheres. Ele estava operando
até mesmo quando os líderes da cidade pegaram os seus dois melhores amigos e
bateram neles cruelmente. Ele estava operando até mesmo quando você orava na
casa de Lídia e um terremoto tanto o assustou. Mas Deus está sempre operando;
não se esqueça disso. Deus estava operando quando ele reuniu algumas das
pessoas menos promissoras do mundo e decidiu fazer delas uma igreja modelo. É verdade,
Timóteo, Deus opera.
Lembra-se da oração que Paulo e todos
os doutores da lei faziam: “Senhor, graças te dou porque não me fizeste gentio,
nem escravo, nem mulher”?
Lembra-se da primeira pessoa
convertida em Filipos: uma mulher, e ainda por cima independente?
Lembra-se da segunda conversão: uma
escrava endemoninhada?
Lembra-se da terceira conversão: um
gentio, um carcereiro romano? Às vezes, é deste modo que Deus age, Timóteo.
Conquista
Não sei que tipo de conquista Timóteo
tinha em mente ao pôr os pés na terra natal de Alexandre, o Grande. Ao deixar Filipos,
porém ele havia aprendido algumas lições importantes quanto ao discipulado.
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