quinta-feira, 7 de julho de 2016

Cap. 5 - Como Conquistar a Macedônia

Cap. 5

Como conquistar a Macedônia

Talvez o que nos venha logo à mente quando vemos uma referência à Macedônia é que seja um antigo país sobre o qual ninguém mais pensa. Mas é claro que não era assim que o jovem Timóteo via aquele lugar. Foi da Macedônia que veio Alexandre, o Grande. Grego pelo lado paterno, Timóteo deve ter ouvido da boca do pai a história das conquistas de Alexandre, do mesmo modo que da boca de sua mãe ouviu a história dos heróis judeus.
Ir à Macedônia era o mesmo que visitar monumentos nacionais. Era trazer á memória os mais grandiosos dias da conquista grega. Assim, pode-se assegurar que qualquer jovem com sangue grego nas veias teria esperado com ansiedade o momento de pisar no solo macedônio.
É claro que, naquela altura, Timóteo estava feliz em ir a qualquer lugar. Os dois meses anteriores tinham sido, no mínimo, de intensa frustração. A qualquer lugar que Paulo queria ir, o Senhor dizia: “Não.” Agora era diferente. O Senhor havia dito: “Sim”, e eles seguiam caminho.
A própria viagem de barco deve ter sido uma experiência excepcional para Timóteo. Listra, sua cidade natal, estava a 160 km do Mediterrâneo e a 320 km do Mar Egeu.
A cidade da Macedônia para a qual eles se dirigiam era Filipos. Fundada por Filipe da Macedônia (pai de Alexandre, o Grande), Filipos foi o centro da mineração do ouro que sustentou a conquista do mundo por Alexandre quatrocentos anos antes de Timóteo nascer. Menos do que 100 anos antes da chegada do evangelho, Filipos foi o local de uma histórica batalha na qual Otaviano (conhecido mais tarde como César Augusto) e Antonio derrotaram Brutus e Cassius. Depois dessa batalha Augusto voltou a Roma para assumir a direção do Império e Brutus suicidou-se.
Filipos era também um centro médico da Macedônia, o que pode até explicar a razão de Lucas ter-se unido á equipe missionária naquele ponto.  De qualquer maneira, todos pareciam ansiosos para lá chegar. Parece que Deus também estava ansioso para que eles chegassem lá. A viagem de barco, que às vezes levava cinco dias quando o vento não era favorável levou apenas dois. Depois de uma espera de diversas semanas, a equipe missionária apressava-se para o campo de batalha.
Animados pela antecipação de finalmente poderem agir, possuídos de uma firme convicção de que este era o lugar que Deus lhes designara, e excitados pelo romantismo que impregnara toda a região da Macedônia, o quarteto – Paulo, Silas, Timóteo e Lucas – desembarcou no porto de Neápolis e começou a jornada de 16 km até a colônia romana de Filipos.

Chegada a Filipos

O que encontraram ao chegar a Filipos? Não muita coisa. Que decepção!
Tendo sido dirigidos por Deus de um modo tão claro, não seria de esperar uma dramática recepção? Não deviam os habitantes do lugar estarem alinhados na praia, agitando ramos de palmeira? Pelo menos, não seria de esperar uma enorme sinagoga onde pudessem ministrar?
Bem, não foi isso o que aconteceu e, depois de algum tempo, Paulo tinha boas razões para duvidar se o chamado da Macedônia havia realmente vindo do Senhor.
Côo Listra, Filipos não possuía sinagoga, o que indicava haver apenas uns poucos judeus na cidade. Isso queria dizer que Paulo estava sem o seu meio de comunicação mais eficiente.
Mais uma vez, Paulo teve de procurar o lugar onde os adoradores do deus verdadeiro se reuniam para orar no sábado. Isso não era difícil de encontrar. Os judeus dispersos geralmente se reuniam às margens de um rio, de conformidade com o Salmo 137. A beira de um rio era também um local muito conveniente, no caso de alguns gentios quererem se batizar.
O rio de Filipos, o Gangites, passava a quase 2 km do oeste da cidade. Foi aí que os quatro homens acharam os adoradores do Deus verdadeiro. Mas notaram que não havia sequer um homem no grupo. Só mulheres.

Uma igreja de mulheres?

Fundaria Deus uma igreja aqui? Talvez a equipe missionária devesse dirigir-se à cidade próxima. Como estabelecer uma cabeça-de-ponte no continente europeu com apenas um punhado de mulheres?
Era um modo assaz estranho de conquistar a Europa. Quando Josué atravessou o Jordão e entrou na Terra Prometida, ele se defrontou com a cidade de Jericó cercada de fortes muralhas. E, quando Jericó caiu, o resto de Canaã tremeu nas suas bases. Mas, quando Paulo, Silas, Timóteo e Lucas atravessaram o Mar Egeu e começaram a conquista do mundo Ocidental, eles se defrontaram com uma reunião de oração de mulheres.
Nos dias atuais em que as mulheres participam mais ativamente da sociedade, talvez não percebamos o humor da situação dos missionários. Mas para um doutor da lei judaica que antes de se tornar cristão costumava orar, dizendo: “Senhor, dou-te graças porque não me fizeste gentio, nem escravo, nem mulher”, certamente essa circunstância tinha um toque irônico.
Pode-se assegurar que isso também trouxe lembranças à mente de Timóteo. Ele havia crescido sob a tutela da mãe e da avó. Filipos faria com que ele sempre se lembrasse de que uma igreja, ou um rapaz, sustentados por mulheres que oram há de prosperar.
Especialmente na Macedônia, o Judaísmo atraía mulheres gentias. Como em outras cidades, muitas dessas mulheres se horrorizavam com a imoralidade social desenfreada. Frequentemente as mulheres eram vítimas de crimes e injustiça. Além do mais, era mais fácil para as mulheres gentias tornarem-se prosélitas da fé judaica do que os homens. Só tinham de ser batizadas, ao passo que os homens precisavam ser circuncidados. Além disso, a Macedônia garantia às mulheres mais liberdade e mais direitos civis do que a maioria das outras regiões. Aqui elas participavam de negócios e tinham o direito de escolher a sua religião. (Consequentemente, as igrejas de Tessalônica e de Filipos, as mulheres participaram do trabalho desde o começo.)
Ao término da reunião às margens do rio, Paulo contava pelo menos com uma pessoa convertida: Lídia, uma mulher extraordinária. Alguns anos antes, Jesus assentara-se junto à fonte em Samaria, e uma mulher tinha se tornado sua discípula. Em Filipos, Paulo sentou-se à beira de um rio e Lídia tornou-se crente. Mas a comparação pára aí. Lídia era uma mulher de negócios de Tiatira, província da Ásia (justamente onde o Espírito de Deus proibira Paulo de pregar o evangelho). Ela vendia o dispendioso tecido de púrpura e prosperava financeiramente; em Filipos morava em casa suficientemente grande para hospedar os quatro missionários, além de abrigar seus próprios familiares (incluindo empregados e crianças).
A princípio, os homens relutaram em aceitar a hospitalidade de Lídia. Mas Atos 16:15 relata: “...nos rogou dizendo: se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa, e aí ficai. E nos constrangeu a isso.”
Tinham agora um teto sobre as suas cabeças e haviam ganho uma alma, mas por enquanto não se podia dizer que a “campanha da Macedônia” estava sendo um sucesso. As reuniões de oração tornaram-se estudo bíblico, e ao invés de se reunirem apenas aos sábados, passaram a reunir-se diariamente. Mas não se podia dizer que estivesse havendo um despertamento religioso. A congregação continuava com o mesmo número de membros.
Não havia grandes problemas. Não havia grandes resultados. Uma atividade normal.
Foi então que surgiu um pequeno problema. Uma jovem escrava começou a seguir os quatro homens quando estes passavam pela rua principal de Filipos para o estudo bíblico todas as manhãs. Ela os seguia clamando: “Estes homens são servos do deus Altíssimo, e vos anunciam o caminho da salvação.”
Todas as manhãs, a escrava proclamava as mesmas palavras. No começo, os missionários devem ter pensado que a garota era louca, mas logo depois Paulo percebeu que estava possuída pelo demônio.
O que deviam fazer? Antes de responder, consideraremos estes dois fatores:
1.    Quando o grupo se dirigiu á beira do rio, dia após dia, passava por um famoso arco filipense no qual havia uma inscrição proibindo deuses estrangeiros de entrarem na cidade. Normalmente, Filipos era uma cidade amante da liberdade que não prestava muita atenção á proibição de religiões estrangeiras. Mas algo havia acontecido em Roma recentemente.
2.    No ano 49 da era cristã, o imperador Claudio expulsara todos os judeus de Roma por causa de um tumulto na comunidade judaica. Certos judeus haviam proclamado que o Messias havia chegado. O alvoroço sobre o assunto tornou-s e tão intenso que o imperador expulsou todos os judeus da cidade. A colônia romana de Filipos estava alerta à possibilidade de alguns membros da pequena comunidade judaica ficassem fora de controle.
Na manhã seguinte, a escrava novamente os seguiu. Fosse qual fosse o motivo, ela precisava de ajuda. Tinha chamado os missionários de servos de Deus, mas ela própria era uma serva dos homens que lucravam com o seu poder demoníaco. Ela dizia que os missionários anunciavam ao povo o caminho da liberdade, mas ninguém precisava de mais libertação do que ela própria.

Ação libertadora

Foi então que Paulo agiu. Irado, ele se voltou e repreendeu o espírito maligno: “Em nome de Jesus Cristo eu te mando: Retira-te dela!” (Atos 16:18). Ela foi então libertada do espírito opressivo.
Ela estava livre, mas Paulo e Silas não mais estavam em liberdade. Foram lançados na prisão por interferirem nos negócios, por perturbarem a paz, e por trazerem religião para as ruas de Filipos. (Timóteo e Lucas não foram presos, talvez por não serem judeus de puro sangue.)
Embora Paulo e Silas estivessem no cárcere interior e com os pés presos ao tronco, não deixaram que o seu espírito fosse acorrentado. Na prisão, os seus cânticos proporcionaram entretenimento para os outros prisioneiros. Na relaidade, os seus louvores acarretaram um terremoto, e levaram o carcereiro a perguntar como podia se salvar.
É interessante este assunto de liberdade. O homem, cuja profissão era acorrentar pessoas, descobriu que era ele quem precisava de liberdade. Prestes a suicidar-se, o carcereiro foi impedido por Paulo e Silas. Então ele perguntou aos dois prisioneiros como conseguir liberdade.
Coisas estranhas aconteceram em Filipos naquela noite.
Filipos era uma cidade que se orgulhava da cidadania romana, a qual garantia liberdade ao povo. Mas eram os cidadãos de Filipos realmente livres? Anos mais tarde, Paulo escreveu aos filipenses falando-lhes sobre a cidadania celestial, a única que garantia liberdade absoluta (Filipenses 3:20).
E o carcereiro, era livre antes? Claro que não. Ele tinha poder para restringir a liberdade de outros, mas não podia libertar-se a si próprio.
E Paulo e Silas nos troncos? Estavam perfeitamente livres. Aliás, eles eram os homens mais livres da cidade. É por isso que podiam cantar!
Timóteo deve ter ficado surpreso com a rapidez dos acontecimentos. Durante diversas semanas a vida parecera um tanto monótona em Filipos. De repente, em 24 horas, tudo se transformou. Ele deve ter-se lembrado de uma ocasião semelhante alguns anos antes em Listra.
Nessa ocasião Timóteo se encontrava na casa de Lídia juntamente com o Dr. Lucas, sem duvida orando pela libertação de Paulo e Silas. Provavelmente havia mais crentes também ali orando naquela noite. Pelo menos, estavam lá na manhã seguinte, quando bateram à porta. Paulo e Silas entraram na casa e confortaram e encorajaram os irmãos.
Se a mera presença de Paulo e Silas não lhes desse suficiente estímulo, eles seriam por certo encorajados pela fantástica história que os dois homens contaram. Que estavam cantando na prisão, e todos os prisioneiros os ouviam quando um terremoto partiu todas as cadeias o carcereiro ficou tão perturbado que quis suicidar-se. Paulo e Silas o acalmaram e lhe falaram acerca de Jesus Cristo. O carcereiro foi salvo e levou os missionários para a sua casa, e os seus familiares também creram. Dentro de poucas horas, os anciãos da cidade ficaram sabendo que Paulo e Silas eram cidadãos romanos e vieram pessoalmente rogar aos missionários que saíssem da prisão e deixassem a cidade. E foi assim que Paulo e Silas se dirigiram à casa de Lídia.

Treinamento de Timóteo

Para o jovem Timóteo, Filipos foi o emocionante início de seu ministério. Paulo ainda não tinha escrito Romanos 8:28, que se refere ao fato de Deus fazer que todas as coisas cooperem para o bem daqueles que o amam, mas Timóteo já tinha aprendido esta verdade.
Quão desanimados não deveriam estar aqueles jovens convertidos cristãos filipenses na noite anterior quando se ajoelharam em oração. Mas eles aprenderam que Deus se compraz em fazer boas surpresas. Filipos tornou-se uma igreja exultante, e a carta que Paulo lhes escreveu mais tarde é cheia de regozijo.
Uma das surpresas de Filipos foi o grupo pequeno e não muito promissor que Deus reuniu para formar esta novel igreja. John Drane assim a descreve: “Os membros vinham de todas as camadas sociais, incluindo-se uma proeminente mulher comerciante local, uma adivinhadora, e o carcereiro da cidade com a sua família. Não é de admirar que, em uma das cidades visitadas, Paulo, Silas e Timóteo fossem descritos como homens que viravam o mundo de cabeça para baixo!”
Muitas vezes ao lermos Atos 16, focalizamos o versículo 31: “Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e tua casa.” Olhamos para Paulo, Silas e o carcereiro e temos a tendência de pensar que aqueles três foram os únicos atingidos.
Mas é bom não esquecer o profundo efeito que tal experiência deve ter produzido no jovem Timóteo. Era aquele o primeiro grupo de crentes que ele havia ajudado a formar. Embora a constante doutrinação da Palavra, dia após dia á margem do rio, devesse ter contribuído grandemente para a estabilidade da jovem igreja, o ímpeto do crescimento posterior derivou-se daquelas dramáticas 24 horas planejadas e executadas pelo Deus Todo-Poderoso, não por Paulo. O home põe, Deus dispõe. Em Filipos, Timóteo aprendeu que a chave do crescimento da igreja é o próprio Deus.
A perseguição viria, como Paulo havia predito em sua visita a Listra alguns anos antes desta vez atingira Paulo e Silas; da próxima, Timóteo podia ser atingido em cheio. Mas a lição que Timóteo aprendeu, ao observar a perseguição de Paulo em Filipos, foi que os cristãos precisam aprender a não se deixar atingir pelo infortúnio ou tribulação pelo contrário, os cristãos precisam transformar estes momentos de aflição em oportunidades.
Timóteo deve ter-se perguntado, como eu me perguntaria: Se eu fosse lançado numa prisão injustamente, seria eu capaz de cantar no meio da noite? Ou será que eu ficaria de mau humor e me queixaria a deus por ter ele me tratado tão injustamente? Será que eu pensaria estar sendo castigado por erros passados? Será que eu ficaria só pensando em mim, ou será que eu olharia para Deus dizendo: “Senhor, não sei por que tu me puseste neste lugar, mas vejo aqui nesta sombria umidade alguns prisioneiros ao meu redor; enquanto espero que faças alguma coisa, acho que poderia dar o testemunho cantando”?

Deus opera

Deus opera, Timóteo; não se esqueça disso. Opera por seu intermédio, mesmo que você não se dê conta do fato. Ele estava operando naqueles primeiros dias em Filipos quando tudo parecia tão monótono e tudo o que vocês faziam era levantar cedo, arrastar-se até à margem do rio fora da cidade, e falar de Jesus Cristo a umas poucas mulheres. Ele estava operando até mesmo quando os líderes da cidade pegaram os seus dois melhores amigos e bateram neles cruelmente. Ele estava operando até mesmo quando você orava na casa de Lídia e um terremoto tanto o assustou. Mas Deus está sempre operando; não se esqueça disso. Deus estava operando quando ele reuniu algumas das pessoas menos promissoras do mundo e decidiu fazer delas uma igreja modelo. É verdade, Timóteo, Deus opera.
Lembra-se da oração que Paulo e todos os doutores da lei faziam: “Senhor, graças te dou porque não me fizeste gentio, nem escravo, nem mulher”?
Lembra-se da primeira pessoa convertida em Filipos: uma mulher, e ainda por cima independente?
Lembra-se da segunda conversão: uma escrava endemoninhada?
Lembra-se da terceira conversão: um gentio, um carcereiro romano? Às vezes, é deste modo que Deus age, Timóteo.

Conquista


Não sei que tipo de conquista Timóteo tinha em mente ao pôr os pés na terra natal de Alexandre, o Grande. Ao deixar Filipos, porém ele havia aprendido algumas lições importantes quanto ao discipulado.

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