Cap.
9
Timóteo
como Irmão
Que pena não haver telefone nos dias
de Paulo! Se houvesse, ele não teria precisado escrever tantas cartas
compridas. Pense no tempo que Timóteo teria economizado; levava-se seis semanas
para percorrer 1600 km.
Mas que enorme conta telefônica teria
Paulo todos os meses! Ele estaria sempre ao telefone conversando com
Epafrodito, ou Árquipo, ou Tito, ou Aristarco ou com qualquer outro obreiro.
A preocupação de Paulo por todas
aquelas igrejas, ainda tenras, era igual a de uma mãe cujos quatro filhos
adolescentes estejam passando o verão em quatro lugares diferentes do país. Ele
gostaria de estar nos quatro lugares ao mesmo tempo. Nunca a preocupação de
Paulo foi mais evidente do que nos anos 60 e 62 da era cristã, quando ele estava
preso em Roma. Mas, estamos nos adiantando.
Conforme nos lembramos, Paulo ficou
preso em Cesaréia. A história dramática de como ele apelou para César (que era
o próprio Nero) a fim de obter um julgamento encontra-se no livro de Atos. Como
cidadão romano, ele tinha tal direito; portanto, depois de dois anos de
confinamento em Cesaréia (o Governador Félix alimentava esperanças de ganhar
propinas de Paulo, e por essa razão não estava com pressa), Paulo foi enviado
de navio para Roma. No trajeto, ele sofreu um naufrágio, durante o qual os
relatórios do seu caso provavelmente se perderam no mar. Finalmente, ele acabou
chegando a Roma na primavera do ano 60, e foi desde logo posto em uma prisão
domiciliar enquanto esperava o julgamento.
Timóteo permaneceu em Cesaréia, mas
três anos mais tarde ele apareceu em Roma. Não há notícias das suas atividades
nesse ínterim; tudo o que podemos fazer é imaginar algumas probabilidades.
Conhecendo as reações de Timóteo, é
bem possível que ele e talvez outro delegado. Tíquico, natural de Éfeso, tenham
ficado em Cesaréia tanto tempo quanto possível. Quando souberam que Paulo havia
apelado para Cesar em Roma, compreenderam que não havia mais nada a ser feito
por ele na Palestina. Pode até ser que tenham seguido para Roma por via
terrestre, visitando as novas igrejas por onde passavam e rogando que orassem
por Paulo.
Lucas e Aristarco, como já dissemos,
ficaram com Paulo, ajudando-o, e foi-lhes permitido que tomassem o malfadado
navio com Paulo. É provável que Timóteo
tivesse ficado feliz em embarcar naquele navio. Mas ninguém conhecia as igrejas
tão bem quanto ele, portanto era natural que Timóteo fosse o encarregado de
notificar aos respectivos cristãos o que estava ocorrendo. É bem possível que o
próprio Paulo tivesse despachado Timóteo e Tíquico para aquela missão.
Se a minha suposição for correta,
Timóteo e Tíquico visitaram as igrejas da Galácia, incluindo Listra, a cidade
natal de Timóteo, onde ele passou uma temporada com a mãe já velha. Foram
provavelmente a Colossos, uma igreja não fundada por Paulo, mas já visitada por
Timóteo; daí devem ter seguido para Éfeso, cidade natal de Tíquico, depois
Trôade e Filipos, onde teriam alertado os cristãos sobre a necessidade de orar
por Paulo. De Filipos, devem ter seguido pela Via Inácia, parando, é claro, em
Tessalônica e Beréia, antes de atravessar o Mar Adriático e tomar a Via Ápia em
direção a Roma.
Tudo isso não passa de conjetura, mas
faz sentido. De qualquer maneira, sabemos pelas epístolas que Timóteo e Tíquico,
que foram visto pela última vez em Jerusalém aproximadamente no ano 58, estavam
em Roma por volta do ano 61 junto com Lucas, Aristarco e, é claro, Paulo.
Timóteo devia estar nos seus 30 e
Paulo nos seus 60 anos.
Nessa ocasião, Timóteo já conhecia bem
diversas cidades grandes. Éfeso, Corinto, Tessalônica eram cidades de 200.000
habitantes ou mais. Mas Roma era diferente. Uma cidade com uma população de
1.200.000 pessoas, das quais umas 400.000 eram escravos, e com uma população
judaica de aproximadamente 50.000 (é possível que houvesse em Roma tantos
judeus quantos em Jerusalém), Roma tinha muitos dos mesmos complexos problemas
urbanos dos tempos atuais. O seu maior problema era a poluição; habitação
urbana era outro problema. Tinha apartamentos em prédios altos (se é que se
pode chamar de prédio alto um que tenha seis andares), e uma completa variedade
de acontecimentos atléticos e espetáculos para divertir o povo. Além de tudo isso, a cidade
desenvolvia-se com rapidez num estado altamente socializado.
Paulo
como prisioneiro
Portanto Roma era uma cidade assaz
singular para a sua época. E Paulo era também um prisioneiro singular. Ele não
estava acorrentado num cubículo nessa ocasião (isso viria mais tarde), mas
tinha sua própria casa alugada. Entretanto, estava sob guarda constante dos
soldados selecionados do imperador. Por uma razão ou outra, muitos dos amigos
de Paulo vieram a Roma e parecia haver um contínuo fluxo de visitantes.
Mas era incômodo estar acorrentado a
um soldado; e para Paulo, que ainda queria fazer tantas coisas e visitar tantos
lugares, era um sofrimento ficar confinado numa casa. Estava impaciente por
comparecer perante Nero.
Uma destas três coisas pode ter sido a
causa do atraso do comparecimento de Paulo perante o tribunal: 1) visto que os
relatórios do seu caso provavelmente se perderam no mar, os funcionários
precisaram escrever a Cesareia pedindo novos relatórios; 2) a agenda tinha
outros casos a serem ouvidos em primeiro lugar; ou 3) é possível que estivessem
esperando pelos perseguidores (os líderes judeus de Jerusalém) para formalizar
a queixa contra Paulo.
Pensar-se-ia que Paulo, tendo uma
relativa liberdade, regozijar-se-ia ministrando aos cristãos de Roma. Mas,
francamente, os cristãos romanos foram um desapontamento para ele.
O Cristianismo chegou a Roma por meio
de judeus desconhecidos convertidos uns 30 anos antes, e tinha crescido em
desordem. Parece que lhes faltava organização, algo de que Paulo fazia questão
nas igrejas por ele fundadas. Havia muitas igrejas independentes em Roma. Parece
que algumas se ressentiam da presença de Paulo na sua cidade; afinal de contas,
pode ser que algumas já tivessem existido antes mesmo da conversão de Paulo.
Outras o ignoravam. Nero estava começando a mostrar o seu verdadeiro caráter, e
parecia prudente não confraternizar com aqueles que estavam aprisionados.
Havia, entretanto, algumas igrejas que apreciavam Paulo.
Embora os contatos de Paulo com a
igreja romana fossem esparsos, o que lhe trazia profunda decepção, seus
contatos com os melhores soldados de Nero foram abundantes. Havia sempre um
soldado na outra extremidade da corrente.
William Barclay diz: “Que maravilhosa
oportunidade! Estes soldados ouviam Paulo pregar e falar com os seus amigos.
Poderá alguém pensar que Paulo, durante as longas horas do dia, deixassem de
falar sobre Jesus com o soldado ao qual estivesse acorrentado? O aprisionamento
de Paulo abriu uma porta para a pregação do evangelho ao melhor regimento do
exército romano, a Guarda Imperial.”
Os soldados devem ter ficado
impressionados, não somente com a mensagem de Paulo, mas também com o seu
método. Eles estavam acostumados a receber ordens dos seus oficiais superiores,
e, deve ter-lhes parecido que o apóstolo Paulo era um oficial superior naquilo
que lhe competia. Timóteo, Tíquico, Aristarco, Lucas, Marcos, Epafras e outros
vinham apresentar o seu relatório a Paulo na sede do comando, e eram então
despachados em missões, como soldados, para cumprir as ordens de Paulo a
centenas de quilômetros de distância, era uma operação eficiente no estilo
militar.
Parece que Timóteo, logo após a sua
chegada ao quartel-general da prisão de Paulo, foi posto a trabalhar. Talvez
por causa dos problemas das vistas, Paulo preferia não escrever as suas cartas
de próprio punho, e seus auxiliares faziam também o papel de secretários.
Provavelmente, Timóteo já havia sido o secretário de Paulo na Segunda Epístola
aos Coríntios; em Roma, parece que Timóteo se tornou o amanuense responsável
pela escrita de diversas outras epístolas.
O nome de Timóteo está no começo de
três epístolas escritas por Paulo na prisão: aos Colossenses, a Filemon e aos
Filipenses. Isto não quer dizer, necessariamente, que foi Timóteo o amanuense;
muitos estudiosos acham, contudo, que é bastante provável. A única epístola
escrita na “prisão” que não tem o nome de Timóteo é a dirigida aos efésios, uma
carta escrita num estilo diferente, embora uma parte do conteúdo seja
semelhante à epístola aos Colossenses. É bem possível que Lucas tenha sido o
secretário naquela carta aos efésios antes de Timóteo chegar a Roma.
Há algo relacionado cm Timóteo em cada
uma destas epístolas.
Igreja
de Colossos
Colossos era uma pequena cidade a 160
km de Éfeso. Era conhecida pelos seus terremotos e pela sua indústria de lã e
corantes. É possível que o Novo Testamento não lhe desse muita atenção, se não
fosse pelo fato de a igreja ter um problema.
Epafras, que parece ter se convertido
por intermédio do ministério de Paulo em Éfeso, foi o fundador da igreja,
embora Timóteo possa também ter contribuído para isso.
Quando a dificuldade surgiu em
Colossos, Epafras foi o intermediário ele tentou resolver aquela dificuldade,
mas parece que não foi bem-sucedido. Preocupado e sentindo-se incapaz de lidar
com a situação, pediu auxílio a Paulo.
(Naquela época houve um terremoto em
Colossos, o que pode ter sido outra razão para a viagem de Epafras a Roma.)
A igreja de Colossos tinha misturado
um pouco do legalismo judaico com o dualismo filosófico grego e ainda com as
ciências ocultas dos efésios. Era uma confusão generalizada.
Embora fosse uma igreja pequena e não
tivesse sido fundada por Paulo, o apóstolo tinha profundo interesse pelo seu
bem-estar. Assim, sob a inspiração do espírito Santo, ele escreveu uma
calorosa, mas muito profunda epístola àquele grupo.
Começou assim: “Paulo, apóstolo e
Cristo Jesus, por vontade de Deus, e o irmão Timóteo” (Colossenses 1:1).
Paulo deu diversos títulos a Timóteo:
filho, cooperador, servo, discípulo, mas na maioria das vezes chamou-o de
irmão.
E a razão por chamá-lo mais
frequentemente de irmão, é que era assim que as igrejas se referiam a ele.
Timóteo havia desenvolvido um relacionamento fraterno com as igrejas,
relacionamento este impossível de ser conseguido por Paulo. Paulo era o
apóstolo, a figura de autoridade. Era a imagem do pai; Timóteo, a imagem do
irmão, aquele que ficava lado a lado com eles. Paulo parecia conhecer todas as
respostas; Timóteo procurava as soluções junto com eles. Enquanto os
colossenses conheciam Paulo apenas de nome, tudo faz crer que a designação
irmão indique um conhecimento mais íntimo com Timóteo.
Barclay diz: “A prioridade no serviço
cristão é a habilidade de dar-se bem com todas as pessoas. Timóteo não é
descrito como o regador, o professor, o teólogo ou o administrador, mas como o
irmão. Aquele que se distancia dos outros jamais pode ser um verdadeiro servo
de Jesus Cristo.”
Há necessidade urgente de irmãos nos
dias de hoje. Ouve-se com frequencia que a igreja precisa de mais missionários,
pastores, professores, e outros obreiros. Mas nestes dias de solidão e de falta
de amizade, uma das maiores carências é a de irmãos.
Paulo dirigiu-se aos colossenses como
irmãos e como santos. Como santos, porque eram pessoas especiais, selecionadas
e postas à prova por Deus. Como habitantes de Colossos, eles podiam sentir-se
insignificantes, apenas fazendo parte de uma das três cidades (Laodiceia,
Hierápolis e Colossos), sendo que esta cidade sempre era mencionada em último
lugar.
Além de serem santos, eram irmãos; irmãos
para o irmão Timóteo, irmãos uns para com os outros, e eram também irmãos para
todos os cristãos espalhados pelo império romano. Podiam ter-se sentidos
isolados nas águas paradas do Vale do Lico, mas Paulo afirmou que eram membros
da família de Deus, uma família não provinciana, uma família que transcedia fronteiras
nacionais.
Sim, eles eram de Colossos, mas eram
também de Cristo. Além de santos, eram irmãos.
Filemom
A igreja de Colossos reunia-se na casa
de um membro rico chamado Filemom, um homem mais ou menos da idade de Paulo. O
seu escravo Onésimo fugira pra Roma e, não se sabe como, encontrou-se com
Paulo.
Acontece que Onésimo, cujo nome
significa “lucrativo ou útil”, logo tornou-se cristão e também um servo útil
para Paulo. Enquanto Onésimo aprendia da fé cristã, Paulo se beneficiava dos
seus serviços.
Daí o dilema. Os companheiros de Paulo
iam e vinham o tempo todo. Seria altamente vantajoso ter alguém permanentemente
ao lado de Paulo. Mas como escravo, Onésimo ainda pertencia a Filemom em
Colossos, o líder da igreja colossense.
Hoje resolveríamos o problema
raciocinando que, sendo a escravidão errada, Onésimo podia ficar em Roma. Mas,
nos dias de Paulo, isso não era tão simples. Paulo tinha de pensar no que era
melhor para Filemom e no que era melhor para Onésimo.
Deste modo, Paulo fez o que tinha de
fazer. Pediu a Timóteo que pegasse a tinta e a pena, e ditou uma pequena carta
ao seu amigo Filemom.
São apenas 25 versículos, mas é uma
das cartas mais calorosas do Novo Testamento. À medida que a gente a lê, não
tem dúvida do quanto Paulo se preocupava com o bem-estar de Filemom e de
Onésimo.
E a escravidão? Como podia Paulo
ignorar os seus males?
Reste atenção ao modo pelo qual Paulo
escreveu. Começou referindo-se a si próprio, não como apóstolo como fez ao
dirigir-se à igreja colossense, mas como prisioneiro, que era justamente a
situação em que devia se encontrar um escravo fugitivo. Mencionando Timóteo na
saudação, chamou-o de irmão, mas a palavra tem aqui uma conotação especial.
Paulo usou a palavra irmão
referindo-se a Filemom também. Na realidade, chamou-o de meu amado irmão.
Legalmente, Filemom podia fazer o que
quisesse com um escravo fugitivo. Podia até mandar matar Onésimo. Naquela
sociedade, escravo não era gente.
Paulo sabia disso. Claro que Onésimo
também. Então Paulo pediu a Filemom um pequeno favor. Que recebesse Onésimo de
volta como servo e como irmão amado.
Quando Paulo acabou de ditar a carta,
ele tinha chamado Timóteo de irmão, Filemom de irmão amado, e também o escravo
Onésimo de irmão caríssimo.
Não parece uma família feliz?
E pode existir escravidão dentro de
uma família feliz?
Lembremo-nos de que o filho pródigo
pediu para voltar à casa paterna como escravo. Mas o pai matou um novilho
cevado e pôs-lhe um anel no dedo.
Enquanto Timóteo escrevia a carta,
deve ter pensado na transformação de sua própria vida. Timóteo não podia
vangloriar-se de dons espetaculares. Mas, ao tornar-se filho de Deus pela fé em
Jesus Cristo, tudo mudou. Tornou-se parte da vasta e sempre crescente
irmandade. Ele, como Onésimo, tinha-se transformado num irmão amado.
Tendo já ditado as duas epístolas,
Paulo chamou Tíquico pediu-lhe que acompanhasse Onésimo e levasse as duas
cartas para Colossos. Tíquico levou a carta aos efésios (a qual pode ter sido
uma carta circular endereçada a outras igrejas da área bem como a Éfeso) na
mesma ocasião.
Igreja
de Filipos
Embora a vida numa casa alugada fosse
bem melhor do que numa prisão romana, certamente as despesas eram bem maiores.
E era impossível Paulo fabricar tendas
com um soldado romano acorrentado ao seu braço. De onde concluímos que ele deve
ter tido problemas financeiros.
Foi nessa altura que Epafrodito
chegou. Nem parecia o homem que Paulo e Timóteo haviam conhecido como pastor da
igreja de Filipos. Obviamente, Epafrodito estava muito doente. Talvez ele
tivesse apanhado malária na região pantanosa ao sul de Roma.
Epafrodito trouxe um presente; os
cristãos de Filipos gostavam de levantar ofertas. Já tinham mandado uma oferta
de amor para Paulo quando este estava em Tessalônica e outra quando em Corinto.
Participaram também do Fundo de Assistência para os Cristãos de Jerusalém, e
agora de novo contribuíam para os gastos pessoais de Paulo. Este ficou
extremamente grato.
Durante as semanas seguintes,
Epafrodito recuperou a saúde. Paulo
mandou seus cooperadores para diversas localidades. Provavelmente Lucas e
Aristarco, que permaneceram ao lado de Paulo durante o naufrágio e durante o
seu aprisionamento em Cesaréia e agora em Roma, também receberam missões.
Timóteo, porém, ficou com Paulo enquanto o apóstolo esperava que o seu caso
fosse apresentado ao tribunal, espera que se esticava mais e mais.
Paulo pediu a Timóteo que o ajudasse
com outra carta, desta vez para agradecer aos filipenses sua generosa dádiva, e
para fazê-los ciente e como ia Epafrodito. O objetivo de Paulo nesta carta foi
partilhar com os filipenses suas próprias emoções e por em ordem alguns
problemas de menor importância, além de indicar alguns pontos perigosos que ele
havia notado na igreja de Filipos. Comparada com a Segunda Epístola aos
Coríntios, esta foi uma carta fácil de escrever.
Podemos imaginar que Paulo tenha se
lembrado dos dias que passou em Filipos com Silas e Timóteo 12 anos antes. Deve
ter se lembrado de Lídia, mulher de negócios, sua primeira convertida, e também
da garota possessa pelo demônio que os acompanhava gritando: “Estes homens são
servos do Deus Altíssimo!”
Servos. E foi como servo que ele
começou a epistola. Escrevendo a outras igrejas, Paulo tinha muitas vezes de lembrar-lhes
ser ele o apóstolo, aquele que escrevia com autoridade. Para os filipenses,
orgulhosos de sua cidadania numa colônia romana, e orgulhosos de sua tradição
na cidade histórica, pareceu-lhe apropriado começar: “Paulo e Timóteo, servos
de Cristo Jesus” (Filipenses 1:1).
Nada mais. Somente servos. Era o
título que Paulo e Timóteo haviam recebido da jovem escrava endemoninhada.
Paulo e Timóteo regozijavam-se pela
maneira com que os cristãos filipenses tornaram-se parceiros no evangelho “desde
o primeiro dia até agora” (Filipenses 1:5) os cristãos filipenses não se
contentaram em ser apenas convertidos; eles tinham se tornado parceiros desde o
dia em que Lídia franqueou o lar aos quatro missionários. O coração generoso de
Lídia estabeleceu um padrão que os cristãos de Filipos continuaram a seguir. A sua
fama era de contribuírem com freqüência e generosidade para o ministério de Paulo
e Timóteo (Filipenses 4:14-19). Mas a sua generosidade era mais do que fazer o
bem. Eles eram parceiros, companheiros do mesmo jugo (companheiros de
escravidão) no ministério de Paulo. Em conseqüência, oravam por ele.
Por certo Paulo lembrou-se de quando, junto
com Silas, oravam na prisão de Filipos, enquanto Timóteo e os recém-convertidos
cristãos oravam reunidos na casa de Lídia. Deus operou por meio de um
terremoto, a fim de cumprir o seu propósito naquela hora. Um carcereiro foi
salvo e logo depois a sua família, vindo eles engrossar as fileiras da novel
igreja de Filipos.
Agora Paulo se encontrava de volta na
prisão, e os seus carcereiros estavam sendo salvos (Filipenses 1:12-13); Deus
estava cumprindo os seus propósitos para o bem da igreja (Filipenses 1:14). Mais
uma vez Paulo se regozijava (Filipenses 1:18). Mais uma vez, os filipenses oravam
do lado de fora, a 1600 km de distância, e Paulo orava do lado de dentro da
prisão (Filipenses 1:9). Tendo tais cristãos como parceiros, não é de admirar
que Paulo estivesse certo de que Deus mais uma vez faria com que todas as
coisas cooperassem para o bem.
A notícia do progresso da igreja
trazida pelo seu pastor Epafrodito era realmente boa. Não havia motivo para
repreensão, embora houvesse alguns problemas, tais como a tendência ao orgulho.
A igreja filipense precisava de
modelos de humildade.
É claro que o maior modelo de humildade
é o próprio Jesus Cristo, que deixou as glórias do céu para vir à terra, onde
se fez servo (aqui está a palavra novamente) e morreu na cruz, morte de pessoa
criminosa.
Se os cristãos manifestassem tal
humildade em Filipos, ou em qualquer outro lugar, não haveria divisões na
igreja. Humildade e amor são os componentes que unem a igreja.
Mas quais os exemplos que Paulo podia
apresentar aos filipenses? Afinal de contas, entende-se esta virtude muito
melhor quando demonstrada em vez de apenas relatada.
Quais exemplos? Havia um sentado ali á
sua frente. Timóteo.
Paulo disse aos filipenses que logo
mandaria Timóteo visitá-los. E acrescentou: “Porque a ninguém tenho de igual
sentimento, que sinceramente cuide de vossos interesses” (Filipenses 2:20). E Paulo
ainda acrescentou esta melancólica sentença: “pois todos eles buscam o que é
seu próprio, não o que é de Cristo Jesus” (Filipenses 2:21).
Um dos propósitos da prometida vista
de Timóteo era levar aos filipenses as últimas notícias do julgamento de Paulo.
Mas o outro propósito era ministrar-lhes.
Paulo disse não haver pessoas de “igual
sentimento” ao de Timóteo. Mas Timóteo era igual a quem?
Esta pergunta tem dado aos
comentaristas o que pensar.
É claro que Timóteo pensava como Paulo.
Haviam passado tanto tempo juntos que Timóteo era quase o prolongamento de
Paulo Timóteo estava tão preocupado com os filipenses quanto Paulo. “Portanto,
ele é a pessoa adequada para o caso” ,diz o comentarista William Hendriksen. “Sim,
vocês podem ficar certos de que Lee sinceramente se interessará pelo seu
bem-estar.”
Além disso, Timóteo tornara-se alguém
que pensava como o Senhor Jesus cristo. Paulo incitou os filipenses a terem
todos o mesmo sentimento (Filipenses 2:2) e também o mesmo sentimento de
Cristo, especialmente com referência à humildade (2:5-8). Paulo devia estar
usando o mesmo raciocínio quando de novo emprega a palavra sentimento um pouco
depois (2:20).
Em verdade, estas referências revelam
três coisas a respeito de Timóteo: o seu interesse estava voltado para Paulo; o
seu interesse estava voltado para os filipenses; o seu interesse estava voltado
para Jesus Cristo.
Era esta a solução. Na realidade,
quando Paulo escreveu esta epístola, não havia pessoa alguma ao seu redor que
possuísse essas três qualidades. Havia milhares de cristãos em Roma naquela
época, mas todos pareciam preocupados com os problemas do viver diário. Paulo
não podia contar com eles para aquela missão.
O segredo do sucesso de Timóteo é que
ele punha os interesses de Jesus Cristo acima dos seus próprios interesses. Não
é de admirar que deus o achasse tão útil.
Timóteo, como você já deve ter
concluído, era um indivíduo comum. Não possuía dons extraordinários, nem
demonstrava coragem excepcional. Apenas colocava os interesses de Jesus Cristo
acima dos seus próprios interesses. Qualquer pessoa pode fazer isso.
Assim que a carta foi terminada, Epafrodito
levou-a a Filipos. É provável que Paulo tenha sido libertado no ano 62,e que
logo em seguida Timóteo tenha ido a Filipos compartilhar as boas notícias com a
igreja que orava.
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