Capítulo 10 - É O COMANDANTE QUE ESTÁ FALANDO

Capítulo 10

É O COMANDANTE QUE ESTÁ FALANDO

Você já sentiu a frustração de indagar por que Deus lhe deu algumas habilidades que você jamais teve oportunidade de desenvolver ou demonstrar? já pensou que, se tivesse oportunidade, poderia projetar-se em algo importante?

Para mim, não

Bem, finalmente chegou para Timóteo, que estava sempre em segundo plano, a chance de sua vida. E ele estava sem vontade de agarrá-la. 

Durante uns 15 anos, Timóteo fora treinado por Paulo, sem nunca ter tido oportunidade de demonstrar seu valor. Agora Paulo dizia: "Timóteo, quero que você fique em Éfeso e zele pela igreja aí."

Era um grande desafio, sendo Éfeso uma das cinco maiores cidades do Império Romano. Desde quando Paulo e Timóteo começaram a primeira igreja cristã naquele lugar (provavelmente na casa de Priscila e Áquila) uns doze anos antes, muitas outras foram fundadas. Igrejas que se reuniam nos lares brotavam por toda a parte. Era maravilhoso. Mas também perigoso.

Em Roma Paulo tinha visto os problemas que podem surgir da falta de organização. Era preciso que alguém fosse a Éfeso a fim de impedir que as igrejas se desintegrassem, alguém que tivesse o mesmo espírito de organização de Paulo, e que não fosse um ditador; alguém que os efésios conhecessem. Quem melhor do que Timóteo?

Timóteo deve ter sentido que a empreitada estava acima de suas forças. além disso, ele conseguia desempenhar muito melhor um cargo de segundo plano. Tinha muito mais experiência numa situação dessas. Com o estômago debilitado e o caráter tímido, como poderia ele jamais lidar com discussões e disputas doutrinárias na igreja, as quais eram inevitáveis numa congregação do tamanho da de Éfeso?

a responsabilidade das igrejas de Éfeso cairia sobre seus fracos ombros. Além disso, as outras igrejas da área viam Éfeso, a cidade-chave da Ásia Menor, como o exemplo de liderança.

Bem, Timóteo, e agora? Quando se lê o começo da carta de Paulo a  Timóteo, pode-se perceber qual foi a tendência natural de Timóteo? "Como lhe disse quando viajei para a Macedônia, espero que você fique aí em Éfeso" (I Timóteo 1:3, A Bíblia Viva). Ou,  "Quando eu estava de viagem, rumo da Macedônia, te roguei que permanecesses em Éfeso". Se Paulo estava rogando a Timóteo que ficasse, é óbvio que Timóteo preferia não ficar.

Timóteo não queria aquele trabalho.

Todavia, está mais do que claro que Paulo queria que ele ali ficasse. Com 63 anos naquela época, o idoso apóstolo tinha conhecimento de muitas coisas:

• Éfeso precisava de uma direção espiritual bem como de organização, e ninguém estava mais bem treinado para isso do que Timóteo;
• Timóteo, já com a idade de 33 anos, precisava ser apartado do ninho. A geração mais nova devia tomar a responsabilidade de paulo;
• Os dias de Paulo estavam contados. Podia ser que ainda fizesse uma viagem missionária à Espanha, e talvez na volta desse uma parada em Gália; mas a realidade era que um homem na casa dos 60, tendo periodicamente problemas de saúde, não poderia aguentar uma movimentada agenda de viagens por muitos anos. além do mais, o imperador Nero estava começando a querer divertir-se. Agora que já não estava sob a influência dos senadores Burro e Sêneca, que pareciam exercer alguma repressão sobre ele, ninguém sabia o que Nero era capaz de fazer.

Timóteo tinha de ficar em Éfeso. Não havia dúvida alguma. Paulo não cedeu e Timóteo teve de fazer o que ele queria.

Fica-se a pensar como teriam Paulo e Timóteo chegado a Éfeso, quando um ano antes estavam em Roma, a mais de 1600 km para o oeste!

A Bíblia nada diz sobre as atividades deles naquela ocasião, mas se a estudarmos atentamente poderemos encontrar alguns indícios.

Logo que Paulo deixou a prisão em Roma (mais ou menos no ano 62 d.C), podemos supor que ele mandou Timóteo para Filipos conforme havia prometido (Filipenses 2:23). Na mesma época, é provável que Paulo tenha se dirigido para a casa de Filemom em Colossos, também conforme sus promessa anterior (Filemom 22) e talvez tenha parado em Creta no caminho (Tito 1:5).

Depois de se recuperar na linda casa de Filemom, Paulo se dirigiu a Éfeso onde Timóteo e eles se encontraram.

A esta altura, é provável que Timóteo tenha pensado que seria o companheiro de viagem de Paulo por alguns tempos. Ao invés disso, Paulo deixou-o num posto de influência em Éfeso enquanto visitava as igrejas da Macedônia. Foi da Macedônia, logo depois de deixar Timóteo em Éfeso (talvez noa no 63 d.C), que Paulo escreveu a Primeira Epístola a Timóteo.

Duas perguntas e respostas

Antes de analisarmos o conteúdo desta carta, vamos examinar duas perguntas:

• Por que Paulo escreveria uma carta a Timóteo? À primeira vista, pode parecer uma pergunta tola, mas não é. Paulo e Timóteo estiveram juntos em Éfeso. Não há dúvida de que discutiram os problema da igreja de Éfeso. Timóteo sabia muito bem qual era o pensamento de Paulo quanto à administração de igrejas e quanto à doutrina cristã. Se ele não conhecesse o modo de pensar de Paulo depois de 12 ou mais anos de convívio e trabalho em comum, seria por certo um péssimo aluno. De todas as pessoas, Timóteo podia ser considerada a menos provável de receber naqueles dias uma carta do apóstolo Paulo.
• Por que teria Paulo começado a carta daquela maneira? Veja só a saudação de um homem que tinha trabalhado lado a lado com Timóteo: "Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pelo mandado de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança" (I Timóteo 1:1).

é o mesmo que receber uma carta de uma namorada começando: "A quem possa interessar" , e terminado "Atenciosamente". Está certo que se escreva desta maneira, mas não destas circunstâncias. Espera-se algo diferente.

Paulo, em geral, referia-se a si mesmo como apóstolo quando estava prestes a exercer a sua autoridade. Ao escrever aos legalistas gálatas, aos desregrados coríntios e aos confusos colossenses, precisou dar força às palavras que se seguiram. quando, porém escreveu a Filemom referiu-se a si próprio como prisioneiro; aos filipenses, como escravo ou servo.

Então por que chamou de apóstolo ao escrever a Timóteo? Será que ele achava que precisava impressionar Timóteo com a sua autoridade?

Penso que paulo tinha diversas e boas razões para assim proceder com Timóteo: (1) Obviamente, era preciso tornar bem claro a Timóteo que Éfeso precisava mais dele do que o próprio Paulo poderia precisar. a situação em Éfeso era crítica. (2) Paulo achava que podia transmitir a Timóteo um pouco de coragem, e na situação em que se encontrava, Timóteo precisava de toda a coragem possível. (3) Embora Paulo e Timóteo tivessem certamente discutido juntos os problemas de Éfeso, Paulo achava que seria de grande auxílio por o preto no branco. (4) Paulo queria emprestar a sua autoridade apostólica a Timóteo a fim de escorá-o na enorme obra que o discípulo tinha pela frente. (5) Ao escrever a epístola, Paulo providenciava uma elementar constituição de igrejas para a crescente igreja efésia.

Minha resposta à segunda pergunta, é que Paulo não estava escrevendo apenas a Timóteo. A carta seria compartilhada com outros líderes da igreja que precisavam saber que as ordens eram endossadas pela autoridade apostólica.

A igreja de Timóteo

Éfeso foi atingida pelas contracorrentes de muitas religiões e filosofias do Leste e do Oeste. Como a cidade se localizasse na estrada Pan-asiática, os diversos mestres que por ali passavam achavam-na um lugar conveniente de parada. Como resultado, os efésios ficaram expostos a uma miscelânea de cultos extravagantes e de diferentes doutrinas.

Na sua Epístola aos Efésios, escrita de Roma um ou dois anos antes, Paulo havia prevenido a igreja do perigo de serem "agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todo vento de doutrina" (Efésios 4:14).

Foi esta a razão pela qual Paulo deixou Timóteo em Éfeso. Timóteo podia não ser a Rocha de Gibraltar. Mas, tratando-se de doutrinas falsas, nada conseguiria abatê-lo.

O comentarista William Hendriksen sugere que Timóteo tinha o "dom do discernimento" (I Timóteo 4:14). Nesse caso, ele certamente deveria exercitá-lo agora.

Timóteo tinha um trabalho específico esperando por ele. Se a igreja de Éfeso ficasse firme na fé, seria um modelo para todas as outras igrejas daquela região. Mas se ela falhasse... bem, todas as outras decerto lhe seguiriam o exemplo.

Humanamente falando, a responsabilidade seria então de Timóteo. Entretanto, como diz John Stott:  "Timóteo estava irremediavelmente desqualificado para assumir pesadas responsabilidades de liderança na igreja". A seguir, Stott dá três boas razões provando por que Timóteo estava desqualificado:

1. Era jovem demais. Na sociedade grega,a palavra juventude referia-se a alguém com menos de 40 anos de idade; alguns anos mais tarde os Cânones Apostólicos da Igreja especificaram que um homem não podia ser bispo se não tivesse mais que 50 anos, idade em que, asseveravam os Cânones, pode-se estar certo de quele "ele já terá passado das confusões da juventude". É provável que Timóteo não tinha ainda chegado aos 35 anos. 
2. Era propenso a doenças. paulo refere-se às "frequentes enfermidades" de Timóteo (I Timóteo 5:223). Por falar nisso, estas é uma das passagens mais citadas com referência a Timóteo. e o começo do versículo, "não continues a beber somente água; usa um  pouco de vinho, por causa do teu estômago", não diz muita coisa sobre o fato da abstinência total ser ou não da vontade de Deus para nós do século 20, mas revela-nos muita coisas sobre Timóteo no 1º século.
3. Era tímido por temperamento. Patrick Fairbairn, outro comentarista, diz que Timóteo "tinha mais tendência a apoiar-se em outros do que a liderar".

Se tudo estiver certo, então como poderia o nome de Timóteo chegar até mesmo a ser considerado para uma função tão estratégica? bem, suponho que a razão seja que Deus se deleita em usar pessoas que pouco prometem.

Moisés tinha várias escusas para provar que ele não era o homem adequado para a tarefa de liderar os israelitas. Deus não as aceitou.

Gideão achou que o anjo do Senhor tinha escolhido a pessoa errada; afinal de contas ele era apenas um rapaz do campo.

Jeremias tinha também algumas características de Timóteo. Ele era jovem demais e não tinha temperamento para proferir mensagens de condenação. Deus designou-o para tal trabalho.

Por que Deus usa tais pessoas ao invés de líderes natos? Paulo explicou isso certa vez aos corintios: "Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus" (I Coríntios 1:27-29). 

O problema dos efésios

À primeira vista, porém, o problema em Éfeso não parecia muito grave. Paulo refere-se a ele como "loquacidade frívola", "fábulas" e "sabedoria falsa", e menciona genealogias como se os cristãos de Éfeso estivesse à procura delas, interessado em descobrir suas origens.

Os eruditos não concordam plenamente sobre qual era a doença espiritual de Éfeso. Sabe, contudo, que através do Judaísmo daquela época, elaboradas interpretações fantasiosas do Antigo Testamento estavam-se espalhando com rapidez. Eram ideias altamente especulativas, baseadas muito mais em imaginação e alegoria do que em explicação racional do Antigo Testamento. Tais interpretações abriam caminho a qualquer nova filosofia que aparecesse.

E como os efésios estivessem numa posição que permitia o conhecimento  de tudo o que surgia, os cristãos estavam sempre contando novidades e especulando como poderiam encaixar a última novidade em sua teologia eclética. Deste modo, passavam o tempo falando, argumentando, imaginando e adaptando mais do que realmente realizando algo.

Em outras palavras, um efésio poderia dizer a outro:

- Sabe, Sócrates foi quase tão sábio quanto Salomão.

- Talvez fossem até aparentados.

- V=Bem, como você sabe, Salomão teve 1000 esposas. Uma delas deve ter vindo da Grécia, certamente.

Então passariam o resto da tarde imaginando parentescos ou procurando conciliar a sabedoria de Salomão com a filosofia de Sócrates.

Ou:

- Você sabia que os filósofos gregos dizem que a matéria é ruim e somente o espírito é bom?

- O que dizem as Escrituras?

- Bem ,se você ler cuidadosamente as entrelinhas, elas dizem a  mesma coisa. O que Adão e Eva fizeram de mau?

- Comeram o fruto proibido.

- Exatamente. Isso prova que as coisas materiais são más. 

Pode-se notar como estas especulações pareciam divertidas. Por que Paulo ficou tão preocupado com isso? Afinal de contas, o povo estava usando a Bíblia. e estavam falando sobre assuntos religiosos. O que havia de tão errado? 

Muito sabiamente, Leon Morris comenta: "É sempre mais fácil discutir do que viver a vida cristã. É da natureza humana preferir discussões fortes a uma vida sacrificial... É perfeitamente possível usar a Bíblia, não como fonte de disciplina divina, mas como o ponto de partida para a exposição de nossas próprias teorias. o fato de essas teorias serem chamadas 'cristãs', 'ortodozas' ou 'doutrinas sãs' não é o suficiente para que elas sejam. Por essa razão, é preciso que haja uma sujeição verdadeira àquilo que deus tem revelado".

Os efésios andavam às voltas com suas conversas sobre religião e negligenciavam o centro do alvo: amor (I Timóteo 1:5).

Infelizmente, os efésios jamais atingiram o alvo. Uma geração mais tarde, quando João recebeu as palavras do Apocalipse de Cristo (Apocalipse 1), uma das igrejas para as quais ele escreveu foi Éfeso. Os efésios foram elogiados por muitas coisas, mas foram condenados por haverem perdido o seu primeiro amor.

E onde perderam este amor? Aparentemente foi no labirinto das conversas sobre religião. Os cristãos dos dias atuais precisam lembrar-se desta lição. A espiritualidade autêntica pode ser perdida no entulho da conversa sobre religião e, infelizmente, os cristãos podem até nem se aperceber que a perderam. 

Uma carta militar

A carta de Paulo a Timóteo tem um estranho toque militar, especialmente em vista do fato de ele se preocupar com que os efésios amem mais, e não menos. A mensagem principal da epístola é: Timóteo quem fala é o seu comandante. Seja um bom soldado.

Talvez por ter vivido acorrentado a soldados romanos por dois anos, Paulo estava mais consciente de alusões militares. É mais provável, porém, que ele se estivesse pondo no lugar de um pai que manda o filho  espiritual para a guerra. Timóteo ia enfrentar uma batalha e precisava preparar-se para ela. 

Por isso Paulo usou tais palavras como luta, combate, dever, mandado; palavras raramente empregadas em suas outras epístolas.

O versículo 18 de I Timóteo, por exemplo, pode ser até traduzido por "Envio-te esta ordem militar...Combate o bom vombate." A palavra grega usada aqui sugere uma longa campanha militar, e não um combate isolado. as duas melhores armas de Timóteo, na opinião de Paulo, eram a fé e a boa consciência (I Timóteo 1:19). Podem não parecer grande coisas comparadas com morteiro e tanque blindado; entretanto, para o tipo de guerra que Timóteo travava, seriam muito mais eficientes.

Em sua Epístola aos Efésios (Efésios 6:10-17), Paulo menciona diversas partes da armadura espiritual que todo cristão bem preparado deve usar. Mas aqui Paulo apresenta apenas duas peças: Fé, que se refere à verdade do evangelho; Timóteo foi exortado a agarrá-la e não deixá-la escapar. Se alguém não souber porque está lutando, nunca saberá se já venceu. A outra peça da armadura, boa consciência, refere-se à comunhão com o Espírito. A consciência indica estar-se em bons termos com o seu próprio eu, tendo ao mesmo tempo um relacionamento funcional com Deus. 

Fé profunda e boa consciência são vitais para um cristão militante bem-sucedido.

Primeiro Paulo compara o crente a um soldado (v.18) e depois faz a comparação com um marinheiro em guerra (v. 19), referindo-se a alguns que permitiram que a sua fé naufragasse, por não terem uma "boa consciência" como leme. Andaram em círculos e acabaram nos rochedos. 

É claro que Paulo havia tido bastante experiência não só em naufrágios como no contato com soldados; portanto, as duas figuras de linguagem lhe eram apropriadas.

A esta altura, Timóteo poderia ter dito: "Muito bem. Quero ser um bom soldado. E também um bom marinheiro. Mas como?"

Paulo relacionou quatro coisas que ajudariam Timóteo a ser um bom soldado ( I Timóteo 4).

• Rejeite as fábulas profanas que circulam em Éfeso. Não gaste o seu tempo discutindo trivialidades. O diabo tem prazer em desviar a atenção do crente das coisas que são importantes.

Mesmo nos dias de hoje este é um bom conselho. Líderes de seitas modernas como aqueles da antiga Éfeso, especializam-se em enfeitar os detalhes das Escrituras. Sejam os da Associação do Espírito Santo para a Unificação da cristandade Mundial de Sun Myung Moon, sejam os Testemunhas de Jeová, os seus seguidores desviam a atenção da pessoa dos assuntos mais importantes com considerações lógicas fundamentadas em minúcias. Se o combate for travado com base nessas minúcias, estar-se-á logo combatendo sobre areias movediças.

• Exercite-se. Não sabemos se Timóteo tinha o hábito de caminhar todas as manhãs; Paulo não criticou essa prática, pois obviamente ele muito se interessava pelas condições físicas de Timóteo. mas a mensagem foi: "Exercita-te espiritualmente." E isso leva mais tempo e requer mais esforço do que o exercício físico.
• Seja exemplo. Paulo aconselhou: " Ninguém  despreza a tua mocidade." Na sociedade moderna um homem nos seus 35 anos pode ser aceito como um executivo. Nos dias de Timóteo não era assim.

Para que nós apercebamos da situação de Timóteo pensemos num jovem aspirante , que logo após sair da Academia Militar, tenha sob seu comando veteranos de mais de 20 anos.

Imaginemos o conselho dado àquele jovem aspirante; "Não deixe que pessoa alguma faça pouco de você por causa da sua idade." Dizer é fácil, fazer é que são elas.

Não se impede que alguém "despreze nossa mocidade" gritando ordens militares ou soltando impropérios. A única maneira é servir de exemplo. 

O comentarista E. F. Scott diz: Timóteo precisava sobressair-se justamente naquelas qualidades em que a juventude costuma ser omissa: dignidade, prudência, consideração pelos outros, lealdade e domínio das paixões."

Isto pode tornar-se um problema para os jovens, mas Timóteo tinha sido elogiado em pelo menos duas destas áreas: consideração pelos outros e lealdade, ou caridade e fé. Paulo havia informado aos filipenses que ninguém excedia a Timóteo nessas virtudes. Se este jovem, agora, conseguisse ter pelos efésios o mesmo interesse que tinha pelos filipenses, ele seria o exemplo de que aqueles precisavam. Não havia dúvida sobre a sua lealdade.

• Seja diligente. Continue na prática das coisas que você sabe que deve fazer.

A prática transforma uma ação excepcional em hábito. E um bom hábito é útil em ocasião de emergência. Foi por isso que Paulo diz a Timóteo: "Sê diligente. Faze destas coisas um hábito."

O estudo da Bíblia deve tornar-se um hábito. Precisamos ter prática no uso da palavra, de maneira que estejamos aptos a usá-la. O salmista disse: "Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti (Salmo 119:11). Paulo comparou a Palavra a uma espada; é mediante a prática que a pessoa torna-se eficiente no seu manejo. 

Mas os cristãos também precisam tornar-se competentes no amor, na fidelidade e na pureza. Infelizmente, alguns cristãos tremendamente eficientes no uso da Palavra parecem negligenciar a prática do amor cristão. 

Um homem de Deus

Mesmo sendo já recomendado a Timóteo, várias vezes, que fosse um bom soldado, paulo o repete ao terminara epístola (I Timóteo 6:11-12). Para chamar a atenção de Timóteo, Paulo usa a expressão: "Ó homem de Deus."

Timóteo compreendeu que Paulo o conhecia muito  e muito bem. Além disso, Timóteo sabia que a expressão "homem de Deus" era reservada para poucas figuras do Antigo Testamente, como Moisés, Davi e Elias. Uma companhia de gente selecionada.

Esse título não foi dado àqueles homens pelo fato de o merecerem; eles o receberam porque tinham sido incumbidos por Deus de um alto encargo, ou de uma sublime responsabilidade. Paulo queria que Timóteo soubesse que deus o havia incumbido de um alto encargo.

Um cristão pode furtar-se ás responsabilidades por pensar que elas não são importantes. Mas a percepção de ser um chamado divino, de ser o homem de Deus naquela situação específica, iluminará apropriadamente a obra.

Timóteo recebeu três palavras de instrução: Foge, segue e combate.

1.Foge. Os soldados não gostam da palavra retirada, mas às vezes uma retirada estratégica de um flanco leva a grandes vitórias em outro. Quando Paulo aconselhou Timóteo a fugir destas coisas (I Timóteo 6:11) ou a "fugir das paixões da mocidade" (II Timóteo 2:22), ele não estava falando primordialmente da imoralidade; referia-se antes de tudo a outras batalhas nas quais se perde mais quando se sai vencedor do que quando bate em retirada. 

Paulo novamente avisou-o da inclinação dos efésios de se metrem em discussões improfícuas. estas batalhas são aquelas em que ao vencê-las a pessoa perde a guerra. É verdade que estar sempre à frente dos outros dá uma sensação de prestígio e prazer, mas as paixões pelo prestígio e prazer são coisas das quais o cristão deve fugir. 

Em seguida Paulo fala sobre o materialismo (Efésios 6). O indivíduo pode lutar até chegar a o apogeu, depositar monte s de dinheiro no banco; mas, se aquilo for a essência da sua vida, terá perdido mais uma guerra. O melhor é evitar o desejo ardente do poder e das posses. Só os loucos vencem a corrida de loucos. É melhor que o individuo nem entre nela.

2. Segue a justiça. A palavra seguir dá ideia de algo passivo. mas a palavra grega sugere estar em ardente busca de justiça. Foi nesse sentido de lurta que Timóteo foi aconselhado a atacar. 

Buscar a justiça significa viver uma vida em harmonia com Deus e com o homem. Estando em harmonia tem-se felicidade. É muito simples. Buscar a justiça não é uma expressão piegas, pois implica dar a Deus o que lhe é devido e lutar pela justiça entre os homens. É uma busca nobre.

3. Combate o bom combate. Há uma batalha, e a responsabilidade de Timóteo é lutar pela vitória.

 Por que teria Paulo dito: "Combate o bom combate"? Os combates são bons? 

Mais ou menos 450 anos antes da carta de Paulo, um historiador grego chamado Tucídides escreveu a "História da Guerra do Peloponeso", e usou praticamente as mesmas palavras de Paulo nesta passagem. O texto de Tucídides é: "Combateremos por algo que deve ser combatido" . É isso que faz com que o combate seja bom,.

É importante que o líder aprenda onde gastar as suas energias de maneira a não cansar-se combatendo batalhas que não têm valor.

Mas você poderia dizer; "Acho-me tão insuficiente. como posso ter esperança de vencer?"

"O combate continuará" responderia Paulo, " e você precisa continuar combatendo. Mas a vitória já esta assegurada, porque o Rei dos reis e Senhor dos senhores está aos seu lado."